sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Doce Solidão II

 Ok, não imaginávamos que a frase "[...] possivelmente toda quinta-feira [...]"do último post iria ser tão ruim... Mas, de qualquer maneira, esperamos que os problemas que tivemos ontem não aconteçam de novo e que, semana que vem, a história saia no dia certo. Pedimos desculpas a quem estava esperando por isso (será que tem alguém asssim?) e, sem mais delongas, curtam o segundo "capítulo" de Doce Solidão.




    O cheiro dos papéis e do mofo invadiu suas narinas. Ele gostava do aroma que as bibliotecas exalavam. Ao contrário da cidade, aquele lugar era enorme. Eram dois andares inteiros de livros e uma cobertura onde normalmente se sentava para ler.
  Subiu as escadas indo para o segundo andar. Lá estavam as suas cinco prateleiras preferidas: Mistério, terror e magia. Preferiu começar pela seção de mistério, indo à procura de livros novos. Achou um bem grosso que tinha em sua capa somente a figura de um espelho quebrado e manchado com sangue. Aquilo lhe chamara a atenção.
  Subiu as escadas novamente, indo agora para o terraço. O sol estava forte, então colocou o chapéu para proteger a cabeça. Era uma boina preta, com uma coroa entalhada de strass. Sentou-se num canto, usando a barra de arame protetora como encosto para as costas. O vento soprou virando as folhas do livro e bagunçando a sua franja. Ele a arruma. Deveria ter ido cortar o cabelo na segunda-feira, mas acabou se acostumando com a franja cobrindo seus olhos.
“Hey! Você é o cara da cafeteria!”
  Ele se vira para a porta. O ruivo de antes havia vindo para o terraço. Alain fecha o livro e se levanta. Ele passa pelo ruivo o ignorando. Iria procurar outro lugar para ler.
“Você vai me ignorar?”
“Vou ler em outro lugar. Não quero alguém me incomodando enquanto eu tento ler.”
“Prometo que não te incomodo vai... Não curto muito ficar sozinho.”
“Hum” Ele volta a se sentar.
  O livro falava sobre um assassinato misterioso, onde não havia corpo para investigar, somente um espelho quebrado e o sangue. Esse tipo de literatura era o seu gênero preferido. Mortes, sofrimento e perguntas sem respostas. Para Alain, aquela era a realidade em que ele vivia.
“Você é gótico ou algo do tipo?” O ruivo pergunta.
“Só me considero ’diferente’, só isso.”
  Havia se acostumado a vestir de maneira estranha depois de sair do ginasial. Blusas rendadas de gola, corpetes, shorts balonê e calças quadriculadas, meias longas e igualmente rendadas, além de uma variedade de chapéus, cintos e suspensórios. Aquilo poderia ter atiçado a curiosidade dos que estavam a sua volta, criando boatos estranhos sobre ele, mas se sentia confortável vestido daquele jeito.
“Esse pircing é de verdade?” O ruivo puxa a argola da boca do outro.
“Ai! É sim seu estúpido!”
  Aquela era uma coisa que fez após chegar à cidade. Havia furado com um cortador descartável e usado uma agulha para arrumar o pircing. Era uma argola de metal simples e pequena, sem muito brilho. O buraco ficou infeccionado durante uma semana, mas acabou cicatrizando.
“Gosta de auto multilação é?”
“Não é da sua conta.”
“Você também é anti-social por acaso? Ouvi dizer que vem de problemas de infância.”
“Não é da sua conta!” Alain grita enfurecido. Aquela palavra lhe dava enjôo.
  Já chega, pensa o garoto. Isso estava ficando irritante. Levantou-se do chão.
“Ei! Você vai sair assim, sem falar nada?”
“Você já ouviu muita coisa. Estou cansado de tanto falar.”
Ruivo insistente, pensa Alain. Ele não sabia calar a boca.
“Posso pelo menos saber o seu nome?” Ele pergunta. ”O meu é Cass.”
“Pode me chamar de Alone. Mas eu não vou responder.” O garoto desce as escadas.
  Depois, acabou ficando até as seis e meia da tarde lendo. Como estava escurecendo, decidiu alugar o livro para terminá-lo em casa. Estava curioso para descobrir se suas suposições sobre o final estavam certas.
  Saindo do ambiente, percebeu que a lua já estava brilhando no céu. Mesmo morando em uma cidade pequena, era perigoso andar por aí depois de escurecer. Alguns preferem lucrar mais fácil, roubando os outros. Mas sempre levava um florete consigo, no caso de precisar.
  Por sorte, não foi atacado durante o caminho. Depois do mês passado, quando rachou a testa de um dos ladrões usando o salto de sua bota, ninguém mais tentou roubá-lo.
  Havia chegado ao apartamento. Jogando o livro no chão, ele estica as costas, estralando os ombros. Gostava de fazer isso, sentia-se mais relaxado.
  Havia sido um dia bem diferente do normal. No período de doze meses no qual esteve na cidade, o maior fenômeno dali havia sido a inauguração do bonheur, um restaurante quatro estrelas.
  “Com licença...” Alguém bate em sua porta.
  Lembrou-se que talvez pudessem ter se mudado para o apartamento ao lado. Não. Ele só havia ficado fora durante três horas, não era tempo suficiente para alguém arrumar tudo.
“Hum.” Diz ele, abrindo a porta.
  Para sua surpresa, quem estava a sua frente agora era o ruivo de antes, Cass.
“Ora, vejam quem eu encontrei. Alone...”
“Você está me seguindo?” Diz o outro, sério.
“Eu vou me mudar para o apartamento ao lado. Vim ver como era meu vizinho.”
‘Vizinho’. A palavra ecoou por sua mente. Não... Isso seria terrível. Ele precisaria conversar com o outro, e isso seria uma tortura e tanto.
“Hum.” Diz Alain, voltando à realidade.
“Quer ir comer alguma coisa?”
“Nã—” Antes mesmo de terminar a frase, seu estomago ronca.
“Vamos lá, se não tiver grana eu posso pagar...”
  Era uma oferta tentadora. O único dinheiro que lhe sobrara foram os sete reais e setenta e cinco, que recebera de troco pelo almoço.
“Está bem, mas só porque você vai pagar.” Ele suspira.
“Hey, casa legal.” O ruivo entra sem a permissão do anfitrião.
“E-ei!”
“Por que você pintou as paredes de preto?!” O ruivo grita.
“Não entre na casa dos outros se permissão!!” Alain empurra o garoto pela porta.
“Ah... Sem graça...”
“Eu vou tomar um banho e me vestir. Você pode ir à frente se quiser.”
Ele fecha a porta, indo para o banheiro.
  Iria ser forçado a sair com o cara mais irritante que já conheceu na vida, só porque não tinha dinheiro. Sua situação estava ficando difícil. O pagamento que recebia na loja de doces não dava para todas as três refeições, a conta de luz e água. Para pagar tudo, acabava comendo pequenos petiscos.
Seu estômago ronca novamente.
“É tudo culpa sua ouviu?!” Ele grita, desligando a ducha.
  Alain enrola a toalha de banho na cintura e sai do cubículo. Depois de entrar em seu quarto, ele escolhe um blazer preto com a cintura marcada, uma calça de risca de giz e botas do exército. Um visual um pouco mais noturno do que antes.
  O garoto sai do apartamento e encontra Cass encostado na parede, o esperando.
“Você demorou quinze minutos.” O ruivo reclama.
“Não pedi pra você me esperar.”
“Eu não disse a que restaurante ia.”
  A cidade só tinha três restaurantes, sendo que um deles não funcionava após as seis da tarde. Seria fácil encontrá-lo. Pensa Alain, apesar de responder com o neutro “Hum” de sempre.
  Os dois garotos andam algumas quadras até chegarem ao Bonheur. Para a surpresa do ruivo, Alain nunca havia ido lá, não teve tempo e nem dinheiro para fazer isso.
  Eles se sentaram num dos ambientes privados. Apesar de não combinar com a cidade, aquele era um restaurante de alto nível. E por sinal, o melhor que o garoto já havia ido.
  As paredes eram decoradas com desenhos ilusionistas, entalhes dourados e candelabros prateados. O teto imitava o céu noturno com tanta perfeição, que se poderia imaginar a brisa fresca entrando.
“Fantástico...” Ele deixa escapar.
“Já vi melhores.” O ruivo resmunga.
  Pediram uma salada verde de entrada e dois filés de salmão para o prato principal. Cass pede duas taças vinho escocês para acompanhar.
“Quantos anos você tem mesmo?” Ele pergunta a Alain.
“Dezenove.” O outro bufa.
“Sou dois anos mais velho que você.” O ruivo sorri.
“Hum.”
  Seu desinteresse era explícito, mas o seu acompanhante teimava em tentar conversar. Talvez ele seja assim mesmo, definitivamente irritante. Infelizmente, única coisa que poderia fazer para retribuir a comida era, pelo menos, responder as perguntas do mais velho.
  Os pratos chegam depois de alguns minutos e os dois começam a degustá-los.
“Não é estranho comer assim?” O ruivo diz apontando para a argola na boca do outro.
“Já me acostumei.” Ele responde passando a língua no metal brilhante.
“Uma vez eu pensei em colocar um desses, mas parecia doer muito.”
“Hum.”
“Você não gosta muito de conversar não é?”
“Não, jura?” Ele diz sarcástico.
“Desculpa aí.”
  Demoraram duas horas no restaurante. Depois do prato principal, Alain acabou comendo uma fatia de suflê, mas reclamou de como a textura estava tenra.
  O ruivo o deixou em casa e foi para um hotel, onde dormiria essa noite. Amanhã de manhã iria começar a mudança para o novo apartamento.
  Alain se deitou na cama, estava cansado de tanto comer. Não tinha uma refeição assim há séculos. Fitando o teto, ele começa a pensar.
“Se ele puder pagar a minha comida, eu nem me importo em ser ‘amigo’ dele.” Sussurra.
‘Amigo’. Outra palavra a qual não estava acostumado. Não chegou nem perto de ter um ‘colega’, mesmo enquanto estava no ginasial. Foi uma época negra de sua vida.
  Ele balança a cabeça. Lembrar de coisas tristes só nos faz mais tristes ainda. Seria melhor se distrair com coisas mais alegres.
  O rosto do ruivo lhe vem à mente.
“Raiva!” Ele diz batendo na parede. Aquele garoto havia pairado em seus pensamentos durante o dia todo. Isso lhe enchia de raiva. Por que não podia voltar ao normal?!
  Uma pontada intensa lhe faz para. Talvez estivesse doente novamente. Era comum pegar uma gripe, vez ou outra. Tomou um remédio para dor de cabeça e foi dormir, esperando melhorar.

“Chubirubiru...” Cass cantarola, levando as caixas do caminhão para o apartamento. Não trouxe muita coisa consigo para poder arrumar tudo rapidamente. Além do mais, eram sós 30 metros quadrados.
  Depois de levar todas as caixas, era hora de abri-las. Levaria um tempo, mas era necessário. Cinco caixas com móveis, sete de coisas avulsas e três com roupa. O armário do quarto deu trabalho em dobro, quando foi encaixotar tudo se esquecera de colocar o manual de instruções. Mas o resto foi fácil.
  Precisaria comprar um fogão e um microondas. Por motivos maiores, não pode levar os antigos. Iria usar o do seu vizinho, Alone.
‘Garoto interessante. ’Pensa ele.
  Havia achado ele diferente na primeira vez que o viu. Por coincidência ou não, acabaram se encontrando outras vezes, e agora eram vizinhos.
  Decidiu ir dar um ‘bom dia’ para o garoto e ver como ele estava. Bateu algumas vezes na porta, sem obter resposta alguma. Era estranho... O lugar não era grande ou coisa assim. Esperou um pouco antes de tentar abrir a porta. O lugar não estava trancado.
“Alone?” O ruivo diz enquanto entra.
  Nenhuma resposta. Isso o preocupava.
  Entrou no quarto, encontrando o outro deitado em sua cama. Será que não havia ouvido as batidas de antes?
  Ele se aproxima do garoto, tocando em sua testa. Estava ardendo em febre.

  Alain sente um leve toque em seu corpo. Parecia ser um daqueles sonhos realistas. Ele abre um pouco os olhos, vendo uma grande mancha vermelha. Estaria ele sonhando com Cass?
“Pesadelo...” O garoto sussurra.
“É assim que você agradece quando eu salvo a sua vida?”
Alain se levanta da cama. Não era um sonho.
“Hã? Por que...?”
“Estava arrumando as minhas coisas e quis passar para dar um oi. Mas pelo que parece você está com uma febre de lascar. Sorte sua que eu vim.”
  Aquilo já era demais. Além de dever pela comida, agora estava devendo pela vida. Poderia pelo menos diminuir a raiva que sentia, em agradecimento.
“Você vai trabalhar hoje?” O outro pergunta.
“Só à tarde.” Ele tenta se levantar da cama, mas é impedido.
“É melhor descansar. Se for trabalhar, o treco vai piorar.” O ruivo diz empurrando o outro para dentro das cobertas novamente.
“Urhgt...”
“E não pense que você não vai pagar ouviu? Está me devendo agora.”
“O que você quer? Eu não tenho dinheiro.” Ele responde, bufado.
“Uhm... Que tal um beijo?” O ruivo brinca, apontando para a sua bochecha.
“N-não.” Diz Alain corando.
Cass ri. ”Eu estava brincando. Eu penso em outra coisa.”
“Urgh!” Grita o outro segurando a cabeça.
“O-o que foi?!”
“Estou com dor de cabeça...” esforça-se para dizer.
  Ele continua a gemer, agora apertando os olhos e se contorcendo. Seu sofrimento era visível.
  O ruivo assiste a cena, sem saber o que fazer. Mesmo tendo ido a um curso de enfermagem durante dois meses, ainda não conseguia socorrer a doenças mais graves, que parecia o caso.
“Urgh...” O outro geme mais uma vez.
  Estava certo. Mesmo não sabendo muita coisa, iria agir de alguma maneira.
“Você tem algum remédio?” Pergunta Cass, obtendo como resposta um gemido.
  Ele começa a remexer todas as gavetas e caixas do lugar. Acaba encontrando alguns remédios para dor, mas nada que funcionasse para àquela hora.
  O outro já havia começado a lacrimejar de dor. Parecia uma pedra, enrolado em seu cobertor. Desesperado, Cass se aproxima do outro.
“O que você normalmente faz quando está doente?”
“Ignoro e vou pro trabalho.”
  Aquilo não iria ajudar em nada. A situação piorava a cada minuto e não havia nenhuma solução.


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  Enquanto decidíamos como terminaríamos essa parte, Ayzami comentou que seria muito tenso terminar bem na linha com mais suspense... Acabamos levando a brincadeira tão a sério que deixamos desse jeito mesmo! xD Isso é uma verdadeira maldade! Então, podem fazer bonecos voodoo ou coisas assim, mas , a próxima parte só sai semana que vem! 
 Ah, não esqueçam de comentar! Não importa se for uma frasezinha ou até mesmo uma crítica à alguma parte,  não se acanhe!
 Bem, deve ser só isso... Até mais!
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Frase da vez: "Celulares são feitos para: Diversão, ligações, mensagens, aplicativos... E... E... Chiga, não é esse tipo de 'diversão' não!"
(infelizmente, só quem acompanha Hey Class Presidente vai enteder essa...)

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