quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Doce Solidão III

Há! Dessa vez estamos no dia certo! (Mesmo que o dia de hoje seja uma data tão 'triste', graças a espera do [provável] último episódio de No.6). Então, vamos logo a história antes que comecemos a enrolar!



“Hum?” Diz Alain esfregando os olhos.
  Estava envolto por paredes brancas e tétricas. Um quarto que obviamente não era seu. Em seu braço estava fixada uma pequena agulha, ligada a um pacote de soro por um fino cabo de plástico.
Estava num hospital.
Hos-pi-tal.
  Ele NUNCA, nunca, foi para um hospital. Tinha pavor até de ouvir a palavra.
  Agora estava internado em um.
“Santa mãe de Nero!” Ele grita arrancando a agulha. ”Por que eu to nessa porcaria de lugar?!”
“Bom dia pra você também...” O ruivo puxa o outro, antes que fuja.
“Por que eu tô aqui?!” Ele repete, ainda tentando fugir.
“Você teve uma crise de anemia. Que causou uma crise respiratória, que fez você desmaiar. Eu não sabia o que fazer então te trouxe para o hospital onde um conhecido meu trabalha.”
“Hos... pital...” Alain diz cansado.
“Você nunca esteve em um antes?”
“Nun... ca”
“Isso explica o fato de estar com duas doenças crônicas.”
  A porta é aberta, os interrompendo.
“Parece que alguém acordou...” O rapaz em jaleco branco segurando uma prancheta diz.
“Sherly!” O ruivo se levanta. ”Pensei que não ia vir hoje! Não era seu dia de folga?”
“Um dos outros médicos está com catapora. Vim substituí-lo.”
“E você é...?” O outro, até então excluído da conversa, aponta para o médico.
“Não sei se o Cass lhe contou, mas eu sou um dos amigos dele. Como pode ver trabalho no ramo da medicina.”
“Ele que me falou desse fim de mundo aqui.” O ruivo completa.
“Que você seja agradecido pelo resto de sua vida...” Diz Alain irônico.
“Ei! Pare com isso! Eu acabei de salvar a sua vida pela segunda vez!”
  Depois de uma pequena discussão e algumas explicações, ficou decidido que o garoto ficaria ali durante o resto do dia, em observação.
“Considere-se sortudo. Ter um DPOC e asma era impossível até hoje! Poderíamos usar você como experiência e...”
“Nada de experiências seu gênio maluco. Lembres-se que agora você tem uma licença médica.” O ruivo o interrompe.
“Eu me perdi de novo...” Alain suspira. Aquilo era... Irritante. Um reencontro entre dois amigos irritantes e paspalhamente felizes.
“O importante é que você fica aqui e não se esforce.” “Se tudo der certo, eu volto hoje à noite.”.
  Ele sai se despedindo de Cass e Alain.
“Alone...”
“Hun?”
“... Desculpe por invadir o seu apartamento.” O ruivo diz.
“Agora não tem problema...” Ele suspira, voltando a se deitar.
“... E desculpe pelo que eu fiz enquanto você dormia.”
“Nã-... O que você fez enquanto eu dormia?!”
“Brincadeira! Eu juro que não fiz nada!” O ruivo grita tentando se proteger do outro que o tentava atacar.
“Espero que não tenha feito nada mesmo!!!”
“Ah, é... Eu preciso ir sabe?... É que eu tenho uma entrevista de emprego num lugar aí...” Ele sai antes que uma almofada lhe acerte a cabeça.
“Isso não foi uma resposta concreta!!”
  Agora do outro lado da porta, o ruivo deixa escapar um riso fraco. ”Agora eu sei como é beijar alguém de pircing.” Ele sussurra, sorrindo.

  Não havia muita coisa para fazer durante o tempo vago. Mas, como Alain era acostumado a esse tédio, sabia como enganá-lo. Jogou todos os jogos conhecidos e até alguns que ele inventou; como o contador de manchas, as coisas que se pode encontrar no parapeito da janela e o clássico ‘quantos insetos estão na minha comida’.
  Acabara se acostumando ao hospital. Na verdade, não percebera a diferença entre estar ali ou em casa, a não ser pelas aparelhagens.
  Logo a noite chegou, e assim como combinado, Sherly voltou. Pelo que os exames mostraram, Alain precisaria ficar ali somente até o dia seguinte, para o observarem. Fariam alguns exames de manhã e depois, o deixariam ir.
“Posso ficar por aqui, não é?” Cass pergunta ao amigo.
“Acho que sim... Como não é um caso muito grave, normalmente, o sistema permite um acompanhante.” Ele olha o relógio de pulso. ”Urhg... Eu preciso ir logo... Ainda tenho muita coisa para fazer.”
  Por um momento, o garoto se perde em seus pensamentos, imaginando como seria se um dia ele tivesse a chance de ter um amigo. Pouco importava agora, já havia passado pelo pior e não se importaria em continuar assim.
  Voltara a esse assunto era chato. Por mais que se esforçasse, sua mente sempre martelava naquela opção. Um ‘se... ’ dentro de suas idéias.
“Ei... Você tá prestando atenção?”
“Hum...?”
“Realmente... Será que você não ouviu uma palavra do que eu disse?”
“Hum...”
“Ok, eu vou simplificar então. Eu vou ficar aqui durante a noite, ok?”
  E faria alguma diferença?Pensa ele. É, talvez ter alguém lhe olhando enquanto dorme poderia até incomodar... Mas...
“Ei... Você viajou de novo foi?”
“Ah... Não. Você pode ficar aqui.”
“Bem, eu ficaria de um jeito ou de outro...”
“Hum...”
  Ele se deita, com o intuito de tentar dormir. Já deveriam ser umas nove e quanto mais cedo dormisse, mais rápido o outro dia chegaria.
  Mesmo que tentasse impedir, isso lhe relembrava a infância. Tempos em que não fazia nada, tinha uma rotina fixa e monótona. Se levantar, for à escola, chegar a casa, comer, dormir; repetindo-a durante um longo tempo... Era uma fonte de stress e loucura, como todo o resto daqueles 18 anos...
“Irritantes...!” Ele deixa escapar.
“Er... Falou comigo?” O ruivo, sentado ao lado do outro, pergunta.
“Hum... Nada... Só cavoucando um pouco do meu passado.”
“Você nunca me contou do seu passado...” Cass reclama, balançando o braço do outro.
“Eu te conheci ontem... Tá achando que eu vou confiar em você?” Ele responde rispidamente.
“Olha, eu salvei a sua vida lembra? Tá me devendo um favor...”
“Então conta você primeiro.”
“Bem... Antes de vir para cá, eu morava como meu sempai, num apartamento nas redondezas de tokyo. Éramos felizes até que ele tentou abusar de mim e aí eu fugi pra cá. Fim” O ruivo diz, sério.
“Uou... Desculpe...”
“Se você contar o seu passado agora, não vai ter problema.”
  Alain suspira. Não gostava de tocar naquele assunto. Mas, como não havia escapatória...
“Está bem.” Ele suspira novamente. ”Eu era uma criança solitária e sem amigos que foi ignorado durante toda a infância e adolescência, tentou se matar uma vez e se mandou de casa quando fez dezoito anos. Fim”
“Interessante...” O outro sorri.
“Não faça graça com a minha vida droga!” Ele grita vermelho de raiva.
  Seu peito voltara a doer. Talvez não devesse ter gritado. Alain volta para de baixo dos cobertores.
“Ei... Tá tudo bem?”
“Sim. Só estou cheio de conversar.” Ele se embrulha nos cobertores de linho.
  Depois de algumas horas, os dois acabam dormindo. Alain foi o primeiro, seguido por Cass.

  Eram duas da manhã quando o ruivo acordou. Estava escuro e frio naquele quarto, e ele se esquecera de pegar um cobertor para se aquecer, tendo em conta que havia capotado no sofá. Ele se levanta para procurar um, que por acaso estava no pé da cama. O ruivo aproveita para dar uma olhada no outro; ainda dormindo.
  Ele sobe na cama, ficando de joelhos sobre Alain, sem sentar em seu abdome. Dali, o garoto parecia bem entretido no seu sonho. Já era a segunda vez que o olhava dormir, sendo que da última vez, havia perdido uma parte de sua, já muito pouca, razão. Sim... Havia provado secretamente daqueles lábios por alguns segundos.
  Na primeira vez que vira aquele garoto, enquanto estava na loja, sentiu alguma atração estranha, queria muito bagunçar aquela franja imensa e ouvir que tipo de voz sairia daquela boca corada. Quando o encontrou na biblioteca, na verdade, o estava perseguindo e subira no terraço, para secretamente admira-lo. Mas a gota d’água foi definitivamente, quando o convidou para jantar. Falhou ao tentar chamar aquilo de “encontro”, mas conseguiu o principal, que era levar o seu –agora conhecido como Alone- novo interesse. Nesse dia, acabou por se dar conta de seus próprios sentimentos, estava realmente “apaixonado” por aquele garoto. Não que isso fosse um problema, nunca discriminara ninguém por causa de sua opção sexual ou algo assim. Estava mas para incentivo, a partir dali, estava pronto para se dedicar totalmente a aquilo.
  Seu nível de preocupação foi às alturas quando descobrira que ele estava doente. Por sorte, conhecia o Sherly, doutor que trabalhava na clínica daquela cidade de fim de mundo.
  Voltou à realidade, percebendo que continuava na mesma posição, o que não seria muito cômodo, pois teria que se equilibrar para não acordar o outro. Mas,” dali conseguia um ângulo perfeito...” pensou ele.Se aproximando de vagar do rosto do menor, ele sorri, admirando-o.
“Droga” Ele sussurra se levantando. Acabara por exagerar e precisava ir ao banheiro resolver esse ‘problema’.

  Alain acorda assustado. Esquecera que estava no hospital e quase fugiu novamente do lugar. Olhando ao seu redor, notou que o ruivo não estava lá. Onde poderia ter ido?
  Ele se levanta, querendo resolver o mistério. Mesmo que ele fosse irritante e que doesse admitir isso, o ruivo fazia falta. Decidiu ir ao banheiro, aproveitando que já havia se levantado.
  Se aproximando da porta, ainda sonolento, Alain para por um momento. Era impressão ou estavam vindos alguns barulhos do lugar?
“Ah...” Pensa ele. ”Aí está o ruivo.” Decidiu esperá-lo sair.
  Depois de um tempo, ele ouve o som do chuveiro sendo ligado. Era estranho alguém tomar banho no meio da madrugada. Decide entrar, tendo o cuidado de não fazer barulho algum, para averiguar a situação.
“É um hobby seu tomar banho no meio da madrugada?” Alain pergunta, se apoiando na porta do Box.
“Fiquei com calor, só isso.” Cass responde ainda em baixo d’água.
“Hum...” Ele abre a porta na qual estava encostado. ”Foi um calor tão grande que você nem tirou a roupa?”
“É...” O ruivo responde fechando o registro.
  Ele sai, ainda pingando. Parece um pouco abatido.
“Aconteceu alguma coisa? Você parece meio mal...” Diz ele, o seguindo.
“Não que lhe importe. Ou que eu vá contar a você.” O ruivo se seca, usando uma toalha que estava estendida no banheiro.
“Desculpe... Não pergunto mais nada.”
  Era mentira, ou uma verdade pela metade. Estava curioso para saber sobre o ruivo. Isso era intrigante e, de alguma maneira, o agradava. Talvez estivesse chateado, mas por qual motivo?Seria alguma coisa que havia dito?O havia magoado?
  Cass voltou para o sofá e o outro o seguiu, indo para a cama. Acabaram dormindo sem falar nenhuma palavra.
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 Er... A impressão agora é de que cada vez que terminamos de postar uma parte, sempre escolhemos o momento mais tenso para o fim?! Ah, no fim das contas somos três sádicos xD De qualquer maneira, esperem até semana que vem para a próxima parte!
 (e não esqueçam de deixar um comentário... [falar isso toda vez já está nos deixando com cara de mendigos que pedem esmola no sinal o.o])
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Frase da vez: você diz que ele é uma pessoa importante, especial, beija ele... E ainda não percebeu nada, Shion?!
(Em "homenagem" a esse dia marcante para os fans de No.6 xD)

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