Ok, uma pequena mudança de planos aqui... Bem, agora vamos mudar os lançamentos para sexta-feira, ok? Assim é mais fácil para nós e pelo menos temos mais chances de manter o prazo. Desculpem-nos a demora e vamos logo com o capítulo!
Já eram três
da manhã e Shio ainda não havia conseguido dormir. Estava com raiva, e ao mesmo
tempo magoa. Não entendia o motivo de não querer falar com Nagare, aquela raiva
não passava de maneira alguma e seu peito doía. Por que o que a estrela lhe
havia dito ficara tão marcado?
Aquilo não
importava. Precisava dormir logo, já que haveria aula. O garoto tenta se
concentrar e relaxar, mas dormir no sofá não era muito confortável.
Jyuu e Nobuko
preferiram dormir no quarto, era mais confortável e mesmo tendo só uma cama,
era grande o suficiente para os dois. Então, só sobrou a Shio dormir no
sofá-cama da sala.
A porta da
sala é aberta, com um longo e agudo ruído. O garoto levanta a cabeça para
averiguar o que acontecia. Não havia nada ali. Bom, poderia ter sido impressão.
Shio congela
quando algo quente gruda em seu tornozelo. Ele pensa em gritar, mas não queria
acordar os outros dois. Tomando coragem, ele se olha para baixo, na direção de
seus pés.
Nagare estava
sentado, segurando seu tornozelo com uma das mãos, enquanto a outra estava
jogada no chão. O grisalho não estava sorrindo, como normalmente fazia. Pelo
contrário, estava cabisbaixo, fazendo com que seus olhos ficassem cobertos pelo
cabelo.
“O que você veio fazer?” Shio sussurra.
A estrela não
responde somente se aproxima de Shio.
“Desculpe-me. Eu não queria ter dito aquilo.” Ele
sussurra na orelha do outro.
Shio bufa. Não
por raiva, mas estava de alguma maneira, aliviado por ouvir aquilo. Sabia que
Nagare não queria feri-lo.
“Está desculpado.” O garoto sussurra, sorrindo.
O grisalho
também sorri e se levanta. Ele fica lá por alguns segundos e então sobe no
sofá.
“Posso ficar aqui, com você?” Ele pergunta, com uma
voz inocente.
“Mantenha distância e tudo ficará bem.” Shio
responde, após pensar um pouco.
Nagare sorri e
se joga dentro dos cobertores.
Olhando dali,
era possível perceber o tamanho daquele ser. Era bem maior que Shio, tinha no
mínimo 20 centímetros a mais. É claro, as botas que estava usando também
aumentavam a sua estatura, mas não era tanto assim.
Shio começa a
sentir uma onda de calor. Ele olha para o lado, estava vindo de Nagare. O
garoto encosta um dos dedos em seu rosto. Estava queimando. Mas aquilo era um
pouco obvio, já que estrelas emitem calor.
Ele se vira,
‘precisava dormir’, ‘precisava dormir’ era o único pensamento em sua cabeça.
O despertador
toca, sendo desligado com um soco. Shio havia dormido por três horas, mas já
era hora de ir para o colégio. O garoto levanta do sofá, ainda se sentindo
dolorido; a estrutura de metal machucava os ossos e o fazia se sentir
desconfortável.
Sem se
importar muito, anda até a cozinha. Como Jyuu e Nobuko logo estariam acordados
precisava preparar o café da manhã o quanto antes.
Ele coloca
todos os pratos na mesa e começa a esquentar o leite. A porta se abre e Nagare
entra na cozinha.
“Bom dia...” Shio diz virado para o microondas.
“Você ainda tem queijo? Eu gostei daquela coisa.” A
estrela se senta à mesa.
“É melhor você comer depois. O Jyuu e o Nobuko estão
vindo e não quero ter que explicar pra eles porque tenho um queijo voador.”
“Então eu posso acordar eles, pelo menos? Não vou
fazer nada fora do comum.” O garoto se equilibra alternadamente na frente e na parte
de trás dos pés.
“Ok. Pode ir.” O outro sorri, voltando a preparar o
café da manhã.
Nagare se
vira e começa a andar pelo corredor, indo em direção ao quarto. Ao abrir a
porta, ele encontra os dois garotos, porém, o mais alto havia caído no chão e o
outro estava no meio da cama. Era uma cena engraçada.
O grisalho
caminha pelo quarto, imaginando o que poderia fazer no momento. Uma ideia surge
em sua cabeça, o fazendo sorrir. Ele empurra Jyuu para um lado da cama e leva
Nobuko para cima da mesma, fazendo-os ficarem frente a frente. Então, com um
peteleco na testa de cada um, os acorda.
“Hum... Me dá mais uns cinco anos...!” Nobuko
reclama, abrindo os olhos.
“Eu quero açúcar...” Jyuu também começa a abrir os
olhos.
Os dois param
por alguns segundos e começam a se encarar.
Shio coloca a
mesa. Nagare estava demorando... Talvez não houvesse conseguido acordar os
outros dois e estava pensando em alguma maneira de...
“SAI PRA LÁ!”
“SAI VOCÊ!”
Jyuu e Nobuko
entram na cozinha, empurrando um ao outro.
“O que foi agora?” Shio suspira.
“Esse, esse, animal aqui estava grudado em mim!” O
maior continua a empurrar o outro.
“Você que ficou agarrado em mim!” Ele retruca.
“Parem de enrolar e venham logo para a mesa. Não
quero me atrasar para a aula.”
“Esta bem, ‘mamãe’.” Nobuko joga cobertura em sua
panqueca.
“Não usa a calda inteira, eu também quero sabia?”
“Eu uso o quanto que quiser.”
“Ela nem é sua...”.
“Que tal vocês
pararem de discutir e comerem antes que a comida esfrie?” O outro garoto estava
sentado em um dos lados da mesa.
Os dois
rangem, porém, param de brigar. Não demora muito tempo para que os garotos
terminarem e irem para o quarto, vestir os uniformes.
A escola
disponibilizava três tipos de uniformes; um para o inverno, com um casaco
vermelho, uma blusa branca e uma calça preta de elanca, que era usado por
Nobuko; outro para o verão, com uma camisa branca de botões e um short preto,
esse modelo era usado por Jyuu; e o modelo comum, com uma blusa branca e uma
calça de moletom vermelha, sendo usado por Shio.
Os três arrumam suas próprias mochilas e as colocam
nas costas. Os convidados saem primeiro, deixando somente Shio dentro de casa,
já que o próprio havia pedido isso.
“Hoje à tarde podemos fazer alguma coisa juntos, está
bem?” Ele diz a Nagare, que estava sentado no chão.
“Zap.” A estrela concorda, balançando a cabeça.
A porta é
fechada e os três garotos começam a caminhar para a escola. Na verdade, correm
para o lugar. Haviam perdido a hora enquanto trocavam de roupa, já que Jyuu
demorara 10 minutos para encontrar uma escova de cabelo. Tinha ‘fios rebeldes’
era o que ele dizia, mesmo tendo um cabelo liso.
Eles chegam
alguns minutos antes do sinal tocar. A maioria dos alunos já estava na sala,
porém, alguns chegaram enquanto a música soava no equipamento de som da escola.
O professor do
primeiro horário logo chega à sala, mesmo estando atrasado. Ele joga suas
coisas em cima da mesa e acende um cigarro.
“Bom dia professor!” Uma dupla de garotas grita,
dando risinhos em seguida. Adoravam bajulá-lo e brigar por ele.
“Ah... Dia.” Ele estica os braços, bocejando e apaga
o cigarro na mesa. “Hoje eu não estou com humor para ficar falando sem parar,
então vou só escrever a matéria no quadro e explico na próxima aula.”
Alguns alunos
comemoram enquanto o professor se levanta e começa a escrever no quadro branco.
Mas, como a matéria era grande, logo todos estão em silêncio, copiando.
Passam-se quarenta minutos e somente algumas pessoas estavam escrevendo,
enquanto outras dormiam ou conversavam com quem estava ao lado.
O professor
estava sentado, com os pés na própria mesa, fazendo círculos de fumaça com o
cigarro.
“Professor...?” Uma das garotas pergunta.
“O que foi?”
“... Você tem uma namorada?”
“Legal... Lá vem essas duas de novo...” Um garoto
reclama.
Duas garotas
na sala admiravam o professor e sempre faziam perguntas sobre a vida pessoal
dele. Essas eram Carrie e Stenfy. É claro, nenhuma das questões eram
respondidas, mas as garotas nunca paravam de perguntar.
“Eu já disse que não vou falar da minha vida
pessoal.” Ele continua sentado na mesma posição.
As garotas
bufam e começam a conversar. Não iriam insistir muito, já que o professor
parecia estar de mal humor.
Seu nome era
Kasanoa Isurans. Porém, odiava aquele nome, então, todos os alunos o chamavam
somente de ‘professor’. Tinha cabelos pretos e olhos azuis, andava sempre com
uma expressão de tédio no rosto e vez ou outra, fumava na sala-mesmo sendo algo
proibido. Não parecia muito com um professor, mas ensinava bem, então ninguém
reclamava.
O sinal toca e
o professor se levanta, assim como alguns alunos.
“Não se esqueçam de trazer as anotações na próxima
aula. Eu vou explicá-las.” O homem bate a porta antes de sair.
Shio se
espreguiça na cadeira. Não gostava muito de anotar porque sua mão ficava
dolorida. Mas não tinha mais nada para fazer, já que aquilo era uma escola.
“Eu tenho medo do professor...” Jyuu se arrasta da
própria cadeira ate Shio. “Ele parece um ladrão ou coisa do gênero...”.
“Aposto que é só pra aparecer...” Nobuko se vira na
cadeira, falando com Shio e Jyuu.
“Eu sinto pena dele. Também não aguentaria dar aula
pra um bando de pirralhos.” O garoto continua jogado na própria cadeira.
A professora
de ciências chega e todos voltam aos seus lugares. A aula começa e logo todos
estão ouvindo as explicações.
Os cinquenta
minutos de aula passam rapidamente e o intervalo chega. Todos saem correndo da
sala para não terem que pegar fila para comprar comida, mesmo Jyuu, Shio e
Nobuko fazem o mesmo.
Depois de se
espremerem para serem atendidos na lanchonete, os garotos vão, como sempre,
para o terraço, onde começam a comer.
“Olha só! Minha língua tá azul!” Jyuu grita,
mostrando a língua.
“Se tava escrito na embalagem, é claro que sua língua
vai ficar azul.” Nobuko diz, mastigando um pão pizza.
“Discordo. Não é bom confiar no que está escrito em
uma embalagem.” Shio suga um pouco do suco pelo canudo, fazendo um barulho
irritante.
“Ei, alguém tem um guardanapo? Esse troço tá cheio de
óleo.” O garoto de cabelos coloridos reclama, tentando resistir a limpar as
mãos em sua blusa.
“Pega aí. Eu não vou precisar.” Jyuu joga um
guardanapo para o outro.
“Jyuu, você só vai comer doces é?” Shio diz, olhando
a comida do outro.
“Um dia você vai passar mal...” Nobuko diz enquanto
joga alguns papeis no lixo.
“Eu tenho resistência a grandes quantidades de
açúcar.” O loiro lambe seu dango. “Acho que é de família.”
“Então nem quero conhecer seus pais...” Shio ri.
Eles
continuam conversando até que o sinal toca. O intervalo havia acabado. Os três
voltam para a sala de aula. Os próximos horários seriam: E.F e dois de
Matemática.
O tempo passa
rápido e logo a aula termina. Os três garotos se despedem e vão para as
respectivas casas.
Shio, como
sempre, caminha até sua própria casa. Porém, no meio do caminho, encontra uma
loja nova no bairro; uma loja de cartomancia. Parecia interessante, então, o
garoto resolve entrar para averiguar as mercadorias.
“Bom dia, o que deseja?” A atendente diz, juntando as
mãos.
Ela trajava um
vestido azul e verde que ia até os joelhos e tinha uma manta roxa jogada sobre
os ombros. Seus cabelos pretos e compridos cobriam a maior parte de seu rosto.
“Eu só quero dar uma olhada.” O garoto responde,
olhando as prateleiras.
Havia várias
pedras e cristais, colares de signos, anéis com pedras preciosas, pequenos
chaveiros com inscrições em latim e algumas outras coisas. Parecia uma loja normal, menos pela grande
cabine de vidro que estava no canto da parede.
O garoto se
aproxima da cabine e tenta olha através do vidro. Havia um busto mecânico,
daqueles que imitam uma cartomante antiga com uma bola de cristal. A sua frente,
haviam as inscrições ‘Lucky Machine. See if today is you lucky Day”. Devia
ser uma máquina antiga, do mesmo tipo que aparece em filmes americanos.
“Você quer testá-la?” A vendedora pergunta, surgindo
de trás do garoto.
“Eu não tenho dinheiro, desculpe.” Ele se vira, indo
a sair da loja.
“Não precisa. Essa será por conta da casa. A loja acabou
de abrir e precisamos de um pouco de popularidade aqui pelo bairro.”
“...Ok...” O garoto volta ,pegando uma moeda dourada
da mão da mulher.
“Coloque-a na máquina e boa sorte.” Ela volta para o
balcão.
Ele obedece,
colocando a moeda em um compartimento giratório. A cabine faz alguns estalos e
as luzes se acendem. Olhando daquela maneira, o busto realmente parecia humano.
“Escolha: Amor, dinheiro ou futuro?” Uma voz mecânica
diz vinda da máquina.
Shio pensa
durante alguns segundos e aperta o botão onde estava escrito ‘ futuro’. Um
pequeno papel é cuspido de uma fenda no painel da máquina.
‘Você passará por uma grande perda que irá lhe abalar. ’
O garoto ri. A
máquina estava atrasada em dois anos. Já havia passado por uma grande perda.
Ele coloca o
papel no bolso e sai da loja. Queria dar adeus à balconista, porém, ela já não
estava mais lá. É... Aquela era uma loja muito misteriosa. Seria bom pensar
duas vezes antes de entra lá novamente.
Depois de
alguns minutos ele finalmente chega a casa. Havia demorado alguns minutos a
mais, mas eles não fariam tanta diferença.
“Você demorou!” Nagare grita, pisando no pé do outro.
“Ai! Eu passei numa loja no meio do caminho, só
isso!”
“Vamos fazer alguma coisa... Por favor! Eu fiquei
vendo aquela coisa por umas seis horas!” O grisalho aponta para a TV. Nobuko
havia deixado o aparelho ligado.
“Aquilo, pra sua informação, é uma televisão. E outra
coisa, eu preciso comer. Estou morrendo de fome por causa da aula de educação
física.” Shio joga a mochila ao lado da porta e vai para a cozinha.
“Eu peguei um pouco de queijo. Aquele negócio é muito
bom. Tem um gosto legal.” A estrela diz, se jogando no sofá.
“Eu vou fazer meu almoço.” O garoto vai para a
cozinha.
“O que você vai fazer? É estranho ver alguém
‘cozinhar’.”
“Você é que diz coisas estranhas. E eu não entendo
nem metade delas às vezes.”
“Eu não sei me expressar direito, usando palavras
humanas. É difícil falar uma língua diferente da sua.”
Shio concorda,
pegando um prato que já tinha feito no dia anterior e esquentando-o no
microondas.
Ele demora meia hora para almoçar, sendo fixamente
observado por Nagare, que não conseguia parar de falar em como a ‘televisão’
era estranha. Então, guarda os objetos que estavam na mesa, lava seu prato e
vai para a sala.
“Ainda não entendi, quer dizer que as imagens se
dividem e começam a voar por aí?” O grisalho pergunta, estralando os dedos.
“É melhor eu parar de tentar explicar isso a você. É
muito complicado.” O garoto suspira, ligando a TV e colocando em um canal
aleatório.
Estava
passando Friends. Um episódio aonde todos iam à praia.
“Nagare, posso perguntar uma coisa?” O garoto se vira
para o outro.
“Sim?”
“Como você sabe tantas coisas sobre humanos?”
“Bem... Acho que quando você passa de um mundo pro
outro, acaba aprendendo algumas coisas. É como se fosse natural. Apesar de que,
você só consegue aprender o básico para poder sobreviver, nada, além disso.”
Ele diz, fitando a tela.
“Então, até aonde você sabe sobre... Aqui?”
“Er... Sei falar coisas básicas, sei o nome da
maioria das coisas... Menos invenções muito avançadas, eu não sei muito sobre
elas.”
“Posso te ensinar o que sei. Poderíamos passar o
tempo dessa maneira.” Shio sorri.
“Eba! Eba!” Nagare empurra o outro, que se
desequilibra e acaba parando no chão.
“Ai... Tente medir um pouco as suas forças.” Ele se
levanta segurando a própria nuca. “Vou pegar uma enciclopédia, espere um
pouco.”
O garoto
volta, minutos depois, segurando um livro vermelho e grosso. Em sua capa, havia
o titulo “CONHECER” grande e dourado.
“Bem... Sobre o que você quer aprender primeiro?”
Shio pergunta, abrindo o livro.
“Hum... Têm aquelas, coisas grandes que ficam no céu,
er... Planetas! Planetas!” Nagare bate os pés um no outro.
“Astronomia? Ok... Espera aí...” O garoto passa
algumas páginas e então abre o livro totalmente.
Havia a figura
de nove planetas e um sol. A imagem ocupava uma página e meia, sendo que o
resto do espaço era usado para pequenos textos sobre cada planeta.
“Muito bem. Esse é o sistema solar, composto de oito
planetas. Mercúrio, Venus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Netuno e Urano.
Recentemente descobriu-se que Plutão é um planeta anão, então ele não conta
mais no sistema solar.”
“Por quê? O que ele fez pra merecer isso?” O grisalho
toma o livro, segurando-o de cabeça para baixo.
“É assim que se segura um livro.” Ele vira o objeto
de cabeça para cima. “E Plutão virou um planeta anão porque não tem tamanho
suficiente pra ser um planeta.”
“Coitado... Mas, e os outros planetas?”
“Bem, Mercúrio é o menor planeta do sistema solar, e
o mais perto do sol. Vênus tem o mesmo tamanho que a Terra; Marte é conhecido
como planeta vermelho; Júpiter é o maior planeta do sistema solar; Saturno vem
em seguida e é um dos planetas mais frios. Por fim temos Netuno, como o ultimo
planeta do sistema solar.”
“É muita coisa... Muita coisa pra eu ficar
lembrando...” O grisalho massageia a própria testa.
“É melhor ficarmos só com isso, por hoje.” Shio fecha
o livro e o coloca no criado-mudo ao lado do sofá.
Ele pega o
controle da TV e muda o canal do aparelho. Estava passando Bones - um programa
forense- muito comum naquele canal.
“Não podemos fazer outra coisa? Fiquei o dia inteiro
vendo... Televisão, certo?” Nagare se contorce em um dos lados do sofá.
“Certo, certo, certo.” O garoto desliga a TV, criando
um pequeno chiado eletrônico. “O que quer fazer, então?”
“Podemos comprar mais queijo? Não tem mais.”
“Você já acabou com ele?! É melhor comer menos!” Shio
ri. “Mas, podemos ir ao mercado. Eu preciso mesmo comprar algumas coisas.”
“Eba! Eba!” O outro se levanta, indo para a porta.
“Espera aí, apressado. Preciso trocar de roupa antes,
não quero sujar o uniforme.” Ele entra no quarto, fechando a porta.
Em alguns
minutos, o garoto volta, usando uma calça jeans, uma blusa listrada e um casaco
sem mangas.
“Vamos lá agora?” Nagare pergunta, sem paciência.
“Só uma coisa, você sabe que não pode deixar que as
pessoas percebam sua presença, não é?”
“Sim...”
“E não pode ficar brincando com objetos do
supermercado, não é?”
“Isso.”
“Ok. Então, podemos ir.” O garoto abre a porta.
Os dois saem,
andando para o supermercado. Como o colégio, o lugar ficava somente a algumas
quadras da casa. Na verdade, a localização daquela casa era privilegiada, já
que ficava atrás de uma rua comercial. Isso facilitava muito a vida das pessoas
que moravam lá, mas encarecia o terreno. Shio tivera sorte por poder morar lá.
Assim que chegam ao estabelecimento, Shio retira um
pequeno papel do bolso.
“Bem, preciso de leite, ovos, queijo e pão.” Ele diz,
olhando a lista. “Vamos começar indo para lá.”
“Ok!”
Como não iriam
comprar muita coisa, os dois garotos precisaram somente de alguns minutos para
recolher os produtos. Logo, foram para um dos caixas.
“São R$ 12.” A atendente diz, enquanto faz uma bola
de chiclete.
“Aqui.” Shio entrega uma nota de dez e uma de cinco.
“Seu troco.” Ela joga algumas moedas no balcão,
voltando a mascar o chiclete.
“Er... Falta um real...” Shio diz, contando o
dinheiro.
“Acha que eu errei, foi?!” A garota se enraivece.
“N-não, é só que...” O garoto guarda as moedas no
bolso, saindo.
“Você não deveria sair assim.” Nagare anda ao lado
dele.
“Essa atendente não gosta de mim. Mas não tem
problema, já que da próxima vez que eu vier aqui ela irá me dar o resto.”
“Estranho...” O grisalho começa a trotar.
“É, um pouco.” O outro responde, rindo.
Eles voltam a
casa e passam o resto do dia fazendo coisas aleatórias. A maioria porque Nagare
queria saber de tudo, como por exemplo, como jogar todos os jogos da casa ou
como usar o microondas. Sem que percebessem, o sol se põe e Shio precisa
preparar seu jantar.
“Posso esquentar o seu suco?”
“Não! Eles são feitos pra se tomar gelado, entendeu? Não
podemos colocar tudo no microondas.” Shio diz, enchendo seu copo.
“Então posso esquentar um pedaço de queijo?” Ele fita
a fatia que estava em seu prato.
“... Pode... Mas tome cuidado quanto for tirar o
prato.” O garoto responde, depois de alguns segundos.
“Eba! Eba!” O grisalho enfia o seu prato no aparelho,
olhando-o girar.
Shio ri e
começa a comer sua própria comida. Nagare logo aparece com seu prato, e é
claro, uma ‘fatia’ de queijo que já estava liquida.
Quando
terminaram, os garotos guardam os pratos e vão assistir um pouco de TV. Porem,
não havia nada de bom, então, decidem ir dormir.
Shio, antes de
se deitar, vai para a sala e começa a olhar as estrelas. Contando-as de uma em
uma, o garoto sorri. Há dois dias estava fazendo exatamente a mesma coisa e
acabara desejando Nagare. Nunca imaginaria o que poderia acontecer.
O garoto
suspira, contando a última estrela e indo para a cama.
O despertador
toca e Shio se levanta, olhando para a janela. O sol ainda não havia saído
direito, mas já era hora de ir preparar o café da manhã.
Ele olha para
o lado. Nagare estava deitado virado para a parede, roncando. Era engraçado
pensar que aquela estrela dormia... Mas muitas coisas sobre Nagare eram
estranhas, então, preferia não pensar aprofundadamente sobre aquilo.
Estralando os
ombros e bocejando, Shio troca de roupa e vai para a cozinha. Toma café e logo
está caminhando para a escola.
“Shio!” Jyuu grita, acenando para o amigo.
“Bom dia...” Nobuko também acena sentado à mesa do
professor.
“Bom dia.” O garoto joga sua mochila na cadeira e vai
ao encontro dos outros dois.
“E aí? Aconteceu algo de interessante?” O loiro diz,
cantarolando.
“... Não...”
“Ontem eu fui abrir uma lata de atum e achei um
dedão...” Nobuko diz, procurando algo em seu bolso. “Ah, aqui.” Ele levanta o objeto.
“Ahrgh! Que nojento! Por que trouxe uma coisa dessas
pra escola?!”
“Eu achei Le-“ Shio é interrompido pelo sinal.
Os três
suspiram e voltam aos seus lugares, como o resto da turma. Assim que a música
para de tocar, todos começam a sussurrar e conversar, porém, param quando
professor entra na sala.
“Bom dia pirralhos.” Ele diz, jogando suas coisas em
cima da mesa. “Abram seus cadernos. Eu vou explicar a matéria de ontem.”
O som de 45
cadernos e fichários sendo abertos envolve a sala, enquanto o professor amassa
uma pequena placa com seu nome e a joga no lixo.
“Bem...” Diz ele, escrevendo o título do capitulo no
quadro branco. “... Vamos falar sobre a independência dos países da America
Espanhola. Podemos começar com o Haiti...”.
Ele continua
falando durante meia hora, sendo acompanhado pelos alunos. Enquanto explicava
sobre o Peru, um toque ecoa pela sala.
“De quem é esse celular? Eles não são permitidos em
sala e...” Ele olha para o aparelho vibrando em sua mesa. “Deem-me alguns
minutos.”
Alguns alunos
cochicham e comentam enquanto o professor atende ao celular.
“ Eu estou no meio da aula, Dwe.” Diz ele, depois de
ver o ID da chamada. “Sim, eu comprei. Alguns dias atrás. Tenho certeza. Ok.” O
homem gira em volta de sua própria mesa. “O que? Dwe...” Ele olha para os
alunos. “... E semana passada? Ok. Sim, amo você também. Te vejo mais tarde.” O
aparelho é desligado. “Bem, onde eu parei? Ah, sim, o Peru-”
“Com quem você estava falando, professor?” Carrie
pergunta, enrolando uma mecha de sua franja ruiva.
“Quantas vezes eu disse que minha vida pessoal não é
da conta dos alunos?”
“Aposto que era a sua namorada!” Um garoto grita do
fundo da sala.
“Devia ser!” Outro, ao lado dele, ri.
“Mentira! Já disse que EU serei a única a ficar com o
professor!” Stenfy bate na própria mesa.
“Ele é meu!” Carrie rosna.
As duas
garotas começam a trocar insultos enquanto o resto da sala também perde o
controle e começa a conversar.
“Viu? Até ele tem uma namorada!” Nobuko importuna
Jyuu, que estava sentado na carteira a sua frente. Aquele era um assunto no
qual adorava incomodar o outro.
“Vocês duas, parem de brigar! O professor é meu!” Uma
garota alta, se coloca no meio das outras duas e acaba participando da briga.
O professor
bate com o punho na mesa, fazendo a sala ficar em silêncio.
“Eu – não – tenho – uma - namorada. Eu – sou - casado.”
Diz ele, mostrando o anel na mão esquerda.
“O que?! Não, de jeito nenhum!” A garota alta grita.
“Ah! Eu perdi a minha juventude!” Stenfy começa a
gritar.
Kasanoa
suspira e coloca seus pés em cima da mesa. Não gostava de falar da sua vida e
nem de confusões, principalmente de consertá-las.
A porta da
sala é aberta com um estrondo, fazendo todos se calarem e voltarem seus olhos
para o novo convidado.
Era um homem
de cabelos longos e ruivos- amarrados em um rabo de cavalo. Seus olhos eram
entre verde e amarelo opaco. Vestia uma blusa preta colada e uma calça jeans
rasgada nos joelhos. Se não o olha-se com atenção, era possível confundi-lo com
uma garota.
“Kasa!” Ele diz abraçando o professor.
“O que você está fazendo aqui?!” O outro grita.
“Estava passando por aqui e me deixaram entrar para
lhe dar um oi.” Ele sorri, segurando as mãos do professor.
“Pare de fugir do trabalho...”
“Ah!” O ruivo diz, olhando para o relógio. “É
verdade, eu tenho que voltar.” Ele beija a bochecha do professor e sai da sala,
correndo, mas volta.
“Três é o número perfeito.”
“... Sete.” O professor retruca, enquanto o outro
sai.
A sala
continua em silêncio, enquanto o professor pega o pincel atômico e tenta
retomar a aula, novamente.
“P-professor?” Jyuu levanta a mão.
“Não pergunte...!” Nobuko sussurra, cutucando o ombro
do loiro.
“...Quem era aquela pessoa?” Ele continua, ignorando
o amigo.
O professor
suspira. Alguém iria perguntar aquilo, mais cedo ou mais tarde.
“Ora, é o meu marido.” Ele diz, tampando o pincel.
Os alunos
começam a conversar em voz alta, chegando a gritar e algumas garotas se
levantam e formam um círculo.
“Como ele pode me trocar por um... Um...!”
“...Por um cara!”
“ Eu prefiro assim...”
O professor
bufa e bate as mãos na mesa.
“Eu tenho uma matéria pra explicar. Se vocês não se
calarem eu dou suspensão de férias pra todo mundo aqui.”
Os alunos vão
voltando para seus lugares lentamente e em um minutos, a aula volta ao curso
normal.
Dois horários
se passam e o recreio chega. Então, como normalmente, Jyuu, Nobuko e Shio vão
para o terraço da escola, para comer.
“Sabe, eu gosto das aulas de história...” O loiro
diz, mordendo uma barra de chocolate.
“... Elas são animadas, normalmente. Melhor do que as
outras aulas.” Shio toma um gole de seu suco.
“Eu não gosto do professor.” Nobuko estava brincando
com uma borboleta que voava.
“Você só está arranjando desculpa. Aposto que é por
que ele é casado com um cara.” Jyuu amassa a embalagem metálica e a joga no
lixo.
“... Mas é estranho! Não é, Shio?!”
“Ãhn?” O garoto estava viajando em seus próprios
pensamentos. “O que você disse?”
“Eu perguntei se você concordava comigo.” O garoto de
cabelo verde resmunga.
“Eu não vejo problema nisso.” Ele come um waffle.
“Não cheira nem fede, pra mim.”
“Viu? Você é que está cismando com ele.”
“É você que só quer achar uma razão pra brigar
comigo.”
“E se for? Vai fazer o que?”
“Eu vou-“
“Ah... Vocês podem parar?” Shio coloca a mão na
testa. “Vocês não brigaram até agora, tentam fazer uma força até chegarem em
casa...”
“Tá bem...” Os dois respondem em unissosso.
O recreio
acaba e os garotos voltam para a sala. A aula corre normalmente, como se a
confusão durante os primeiros horários não tivesse acontecido. Logo o último
sinal bate e os alunos saem da escola, ou ‘prisão’ para alguns.
Shio caminha
até sua própria casa, com a mochila jogada em um dos ombros. Algum dia
conseguiria fazer aquele caminho de olhos fechados...
Não consegui
achar a loja de cartomancia que havia visto no dia anterior. Em seu lugar havia
uma sorveteria comum e monótona.
Ele abre a
porta e joga a mochila atrás da mesma. Nagare está vendo televisão na sala.
“Bem vindo de volta.” O grisalho diz, quando vê o
outro.
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E aí? Estão gostando? Sabemos que essa pergunta parece repetir insanamente aqui, mas, queremos mesmo saber o que vocês acham! Isso é importante para a nossa experiência *carinha de cachorro abandonado*. Bem, agora, sem mendigagem, esperamos que tenham gostado do capítulo e... Até sexta que vem~!