sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Fake Star I-II & Avisos

 Ok, uma pequena mudança de planos aqui... Bem, agora vamos mudar os lançamentos para sexta-feira, ok? Assim é mais fácil para nós e pelo menos temos mais chances de manter o prazo. Desculpem-nos a demora e vamos logo com o capítulo!


Capítulo 2: “A estrela frágil”


 Já eram três da manhã e Shio ainda não havia conseguido dormir. Estava com raiva, e ao mesmo tempo magoa. Não entendia o motivo de não querer falar com Nagare, aquela raiva não passava de maneira alguma e seu peito doía. Por que o que a estrela lhe havia dito ficara tão marcado?
 Aquilo não importava. Precisava dormir logo, já que haveria aula. O garoto tenta se concentrar e relaxar, mas dormir no sofá não era muito confortável.
 Jyuu e Nobuko preferiram dormir no quarto, era mais confortável e mesmo tendo só uma cama, era grande o suficiente para os dois. Então, só sobrou a Shio dormir no sofá-cama da sala.
  A porta da sala é aberta, com um longo e agudo ruído. O garoto levanta a cabeça para averiguar o que acontecia. Não havia nada ali. Bom, poderia ter sido impressão.
 Shio congela quando algo quente gruda em seu tornozelo. Ele pensa em gritar, mas não queria acordar os outros dois. Tomando coragem, ele se olha para baixo, na direção de seus pés.
 Nagare estava sentado, segurando seu tornozelo com uma das mãos, enquanto a outra estava jogada no chão. O grisalho não estava sorrindo, como normalmente fazia. Pelo contrário, estava cabisbaixo, fazendo com que seus olhos ficassem cobertos pelo cabelo.
“O que você veio fazer?” Shio sussurra.
 A estrela não responde somente se aproxima de Shio.
“Desculpe-me. Eu não queria ter dito aquilo.” Ele sussurra na orelha do outro.
 Shio bufa. Não por raiva, mas estava de alguma maneira, aliviado por ouvir aquilo. Sabia que Nagare não queria feri-lo.
“Está desculpado.” O garoto sussurra, sorrindo.
 O grisalho também sorri e se levanta. Ele fica lá por alguns segundos e então sobe no sofá.
“Posso ficar aqui, com você?” Ele pergunta, com uma voz inocente.
“Mantenha distância e tudo ficará bem.” Shio responde, após pensar um pouco.
 Nagare sorri e se joga dentro dos cobertores.
 Olhando dali, era possível perceber o tamanho daquele ser. Era bem maior que Shio, tinha no mínimo 20 centímetros a mais. É claro, as botas que estava usando também aumentavam a sua estatura, mas não era tanto assim.
 Shio começa a sentir uma onda de calor. Ele olha para o lado, estava vindo de Nagare. O garoto encosta um dos dedos em seu rosto. Estava queimando. Mas aquilo era um pouco obvio, já que estrelas emitem calor.
 Ele se vira, ‘precisava dormir’, ‘precisava dormir’ era o único pensamento em sua cabeça.

 O despertador toca, sendo desligado com um soco. Shio havia dormido por três horas, mas já era hora de ir para o colégio. O garoto levanta do sofá, ainda se sentindo dolorido; a estrutura de metal machucava os ossos e o fazia se sentir desconfortável.
 Sem se importar muito, anda até a cozinha. Como Jyuu e Nobuko logo estariam acordados precisava preparar o café da manhã o quanto antes.
 Ele coloca todos os pratos na mesa e começa a esquentar o leite. A porta se abre e Nagare entra na cozinha.
“Bom dia...” Shio diz virado para o microondas.
“Você ainda tem queijo? Eu gostei daquela coisa.” A estrela se senta à mesa.
“É melhor você comer depois. O Jyuu e o Nobuko estão vindo e não quero ter que explicar pra eles porque tenho um queijo voador.”
“Então eu posso acordar eles, pelo menos? Não vou fazer nada fora do comum.” O garoto se equilibra alternadamente na frente e na parte de trás dos pés.
“Ok. Pode ir.” O outro sorri, voltando a preparar o café da manhã.
  Nagare se vira e começa a andar pelo corredor, indo em direção ao quarto. Ao abrir a porta, ele encontra os dois garotos, porém, o mais alto havia caído no chão e o outro estava no meio da cama. Era uma cena engraçada.
 O grisalho caminha pelo quarto, imaginando o que poderia fazer no momento. Uma ideia surge em sua cabeça, o fazendo sorrir. Ele empurra Jyuu para um lado da cama e leva Nobuko para cima da mesma, fazendo-os ficarem frente a frente. Então, com um peteleco na testa de cada um, os acorda.
“Hum... Me dá mais uns cinco anos...!” Nobuko reclama, abrindo os olhos.
“Eu quero açúcar...” Jyuu também começa a abrir os olhos.
 Os dois param por alguns segundos e começam a se encarar.

 Shio coloca a mesa. Nagare estava demorando... Talvez não houvesse conseguido acordar os outros dois e estava pensando em alguma maneira de...
“SAI PRA LÁ!”
“SAI VOCÊ!”
 Jyuu e Nobuko entram na cozinha, empurrando um ao outro.
“O que foi agora?” Shio suspira.
“Esse, esse, animal aqui estava grudado em mim!” O maior continua a empurrar o outro.
“Você que ficou agarrado em mim!” Ele retruca.
“Parem de enrolar e venham logo para a mesa. Não quero me atrasar para a aula.”
“Esta bem, ‘mamãe’.” Nobuko joga cobertura em sua panqueca.
“Não usa a calda inteira, eu também quero sabia?”
“Eu uso o quanto que quiser.”
“Ela nem é sua...”.
 “Que tal vocês pararem de discutir e comerem antes que a comida esfrie?” O outro garoto estava sentado em um dos lados da mesa.
 Os dois rangem, porém, param de brigar. Não demora muito tempo para que os garotos terminarem e irem para o quarto, vestir os uniformes.
 A escola disponibilizava três tipos de uniformes; um para o inverno, com um casaco vermelho, uma blusa branca e uma calça preta de elanca, que era usado por Nobuko; outro para o verão, com uma camisa branca de botões e um short preto, esse modelo era usado por Jyuu; e o modelo comum, com uma blusa branca e uma calça de moletom vermelha, sendo usado por Shio.
Os três arrumam suas próprias mochilas e as colocam nas costas. Os convidados saem primeiro, deixando somente Shio dentro de casa, já que o próprio havia pedido isso.
“Hoje à tarde podemos fazer alguma coisa juntos, está bem?” Ele diz a Nagare, que estava sentado no chão.
“Zap.” A estrela concorda, balançando a cabeça.
 A porta é fechada e os três garotos começam a caminhar para a escola. Na verdade, correm para o lugar. Haviam perdido a hora enquanto trocavam de roupa, já que Jyuu demorara 10 minutos para encontrar uma escova de cabelo. Tinha ‘fios rebeldes’ era o que ele dizia, mesmo tendo um cabelo liso.
 Eles chegam alguns minutos antes do sinal tocar. A maioria dos alunos já estava na sala, porém, alguns chegaram enquanto a música soava no equipamento de som da escola.
 O professor do primeiro horário logo chega à sala, mesmo estando atrasado. Ele joga suas coisas em cima da mesa e acende um cigarro.
“Bom dia professor!” Uma dupla de garotas grita, dando risinhos em seguida. Adoravam bajulá-lo e brigar por ele.
“Ah... Dia.” Ele estica os braços, bocejando e apaga o cigarro na mesa. “Hoje eu não estou com humor para ficar falando sem parar, então vou só escrever a matéria no quadro e explico na próxima aula.”
 Alguns alunos comemoram enquanto o professor se levanta e começa a escrever no quadro branco. Mas, como a matéria era grande, logo todos estão em silêncio, copiando. Passam-se quarenta minutos e somente algumas pessoas estavam escrevendo, enquanto outras dormiam ou conversavam com quem estava ao lado.
 O professor estava sentado, com os pés na própria mesa, fazendo círculos de fumaça com o cigarro.
“Professor...?” Uma das garotas pergunta.
“O que foi?”
“... Você tem uma namorada?”
“Legal... Lá vem essas duas de novo...” Um garoto reclama.
 Duas garotas na sala admiravam o professor e sempre faziam perguntas sobre a vida pessoal dele. Essas eram Carrie e Stenfy. É claro, nenhuma das questões eram respondidas, mas as garotas nunca paravam de perguntar.
“Eu já disse que não vou falar da minha vida pessoal.” Ele continua sentado na mesma posição.
 As garotas bufam e começam a conversar. Não iriam insistir muito, já que o professor parecia estar de mal humor.
 Seu nome era Kasanoa Isurans. Porém, odiava aquele nome, então, todos os alunos o chamavam somente de ‘professor’. Tinha cabelos pretos e olhos azuis, andava sempre com uma expressão de tédio no rosto e vez ou outra, fumava na sala-mesmo sendo algo proibido. Não parecia muito com um professor, mas ensinava bem, então ninguém reclamava.
 O sinal toca e o professor se levanta, assim como alguns alunos.
“Não se esqueçam de trazer as anotações na próxima aula. Eu vou explicá-las.” O homem bate a porta antes de sair.
 Shio se espreguiça na cadeira. Não gostava muito de anotar porque sua mão ficava dolorida. Mas não tinha mais nada para fazer, já que aquilo era uma escola.
“Eu tenho medo do professor...” Jyuu se arrasta da própria cadeira ate Shio. “Ele parece um ladrão ou coisa do gênero...”.
“Aposto que é só pra aparecer...” Nobuko se vira na cadeira, falando com Shio e Jyuu.
“Eu sinto pena dele. Também não aguentaria dar aula pra um bando de pirralhos.” O garoto continua jogado na própria cadeira.
 A professora de ciências chega e todos voltam aos seus lugares. A aula começa e logo todos estão ouvindo as explicações.
 Os cinquenta minutos de aula passam rapidamente e o intervalo chega. Todos saem correndo da sala para não terem que pegar fila para comprar comida, mesmo Jyuu, Shio e Nobuko fazem o mesmo.
 Depois de se espremerem para serem atendidos na lanchonete, os garotos vão, como sempre, para o terraço, onde começam a comer.
“Olha só! Minha língua tá azul!” Jyuu grita, mostrando a língua.
“Se tava escrito na embalagem, é claro que sua língua vai ficar azul.” Nobuko diz, mastigando um pão pizza.
“Discordo. Não é bom confiar no que está escrito em uma embalagem.” Shio suga um pouco do suco pelo canudo, fazendo um barulho irritante.
“Ei, alguém tem um guardanapo? Esse troço tá cheio de óleo.” O garoto de cabelos coloridos reclama, tentando resistir a limpar as mãos em sua blusa.
“Pega aí. Eu não vou precisar.” Jyuu joga um guardanapo para o outro.
“Jyuu, você só vai comer doces é?” Shio diz, olhando a comida do outro.
“Um dia você vai passar mal...” Nobuko diz enquanto joga alguns papeis no lixo.
“Eu tenho resistência a grandes quantidades de açúcar.” O loiro lambe seu dango. “Acho que é de família.”
“Então nem quero conhecer seus pais...” Shio ri.
  Eles continuam conversando até que o sinal toca. O intervalo havia acabado. Os três voltam para a sala de aula. Os próximos horários seriam: E.F e dois de Matemática.
 O tempo passa rápido e logo a aula termina. Os três garotos se despedem e vão para as respectivas casas.
 Shio, como sempre, caminha até sua própria casa. Porém, no meio do caminho, encontra uma loja nova no bairro; uma loja de cartomancia. Parecia interessante, então, o garoto resolve entrar para averiguar as mercadorias.
“Bom dia, o que deseja?” A atendente diz, juntando as mãos.
 Ela trajava um vestido azul e verde que ia até os joelhos e tinha uma manta roxa jogada sobre os ombros. Seus cabelos pretos e compridos cobriam a maior parte de seu rosto.
“Eu só quero dar uma olhada.” O garoto responde, olhando as prateleiras.
 Havia várias pedras e cristais, colares de signos, anéis com pedras preciosas, pequenos chaveiros com inscrições em latim e algumas outras coisas.  Parecia uma loja normal, menos pela grande cabine de vidro que estava no canto da parede.
 O garoto se aproxima da cabine e tenta olha através do vidro. Havia um busto mecânico, daqueles que imitam uma cartomante antiga com uma bola de cristal. A sua frente, haviam as inscrições ‘Lucky Machine. See if today is you lucky Day”.      Devia ser uma máquina antiga, do mesmo tipo que aparece em filmes americanos.
“Você quer testá-la?” A vendedora pergunta, surgindo de trás do garoto.
“Eu não tenho dinheiro, desculpe.” Ele se vira, indo a sair da loja.
“Não precisa. Essa será por conta da casa. A loja acabou de abrir e precisamos de um pouco de popularidade aqui pelo bairro.”
“...Ok...” O garoto volta ,pegando uma moeda dourada da mão da mulher.
“Coloque-a na máquina e boa sorte.” Ela volta para o balcão.
 Ele obedece, colocando a moeda em um compartimento giratório. A cabine faz alguns estalos e as luzes se acendem. Olhando daquela maneira, o busto realmente parecia humano.
“Escolha: Amor, dinheiro ou futuro?” Uma voz mecânica diz vinda da máquina.
 Shio pensa durante alguns segundos e aperta o botão onde estava escrito ‘ futuro’. Um pequeno papel é cuspido de uma fenda no painel da máquina.
‘Você passará por uma grande perda que irá lhe abalar. ’
 O garoto ri. A máquina estava atrasada em dois anos. Já havia passado por uma grande perda.
 Ele coloca o papel no bolso e sai da loja. Queria dar adeus à balconista, porém, ela já não estava mais lá. É... Aquela era uma loja muito misteriosa. Seria bom pensar duas vezes antes de entra lá novamente.
 Depois de alguns minutos ele finalmente chega a casa. Havia demorado alguns minutos a mais, mas eles não fariam tanta diferença.
“Você demorou!” Nagare grita, pisando no pé do outro.
“Ai! Eu passei numa loja no meio do caminho, só isso!”
“Vamos fazer alguma coisa... Por favor! Eu fiquei vendo aquela coisa por umas seis horas!” O grisalho aponta para a TV. Nobuko havia deixado o aparelho ligado.
“Aquilo, pra sua informação, é uma televisão. E outra coisa, eu preciso comer. Estou morrendo de fome por causa da aula de educação física.” Shio joga a mochila ao lado da porta e vai para a cozinha.
“Eu peguei um pouco de queijo. Aquele negócio é muito bom. Tem um gosto legal.” A estrela diz, se jogando no sofá.
“Eu vou fazer meu almoço.” O garoto vai para a cozinha.
“O que você vai fazer? É estranho ver alguém ‘cozinhar’.”
“Você é que diz coisas estranhas. E eu não entendo nem metade delas às vezes.”
“Eu não sei me expressar direito, usando palavras humanas. É difícil falar uma língua diferente da sua.”
 Shio concorda, pegando um prato que já tinha feito no dia anterior e esquentando-o no microondas.
Ele demora meia hora para almoçar, sendo fixamente observado por Nagare, que não conseguia parar de falar em como a ‘televisão’ era estranha. Então, guarda os objetos que estavam na mesa, lava seu prato e vai para a sala.
“Ainda não entendi, quer dizer que as imagens se dividem e começam a voar por aí?” O grisalho pergunta, estralando os dedos.
“É melhor eu parar de tentar explicar isso a você. É muito complicado.” O garoto suspira, ligando a TV e colocando em um canal aleatório.
 Estava passando Friends. Um episódio aonde todos iam à praia.
“Nagare, posso perguntar uma coisa?” O garoto se vira para o outro.
“Sim?”
“Como você sabe tantas coisas sobre humanos?”
“Bem... Acho que quando você passa de um mundo pro outro, acaba aprendendo algumas coisas. É como se fosse natural. Apesar de que, você só consegue aprender o básico para poder sobreviver, nada, além disso.” Ele diz, fitando a tela.
“Então, até aonde você sabe sobre... Aqui?”
“Er... Sei falar coisas básicas, sei o nome da maioria das coisas... Menos invenções muito avançadas, eu não sei muito sobre elas.”
“Posso te ensinar o que sei. Poderíamos passar o tempo dessa maneira.” Shio sorri.
“Eba! Eba!” Nagare empurra o outro, que se desequilibra e acaba parando no chão.
“Ai... Tente medir um pouco as suas forças.” Ele se levanta segurando a própria nuca. “Vou pegar uma enciclopédia, espere um pouco.”
 O garoto volta, minutos depois, segurando um livro vermelho e grosso. Em sua capa, havia o titulo “CONHECER” grande e dourado.
“Bem... Sobre o que você quer aprender primeiro?” Shio pergunta, abrindo o livro.
“Hum... Têm aquelas, coisas grandes que ficam no céu, er... Planetas! Planetas!” Nagare bate os pés um no outro.
“Astronomia? Ok... Espera aí...” O garoto passa algumas páginas e então abre o livro totalmente.
 Havia a figura de nove planetas e um sol. A imagem ocupava uma página e meia, sendo que o resto do espaço era usado para pequenos textos sobre cada planeta.
“Muito bem. Esse é o sistema solar, composto de oito planetas. Mercúrio, Venus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Netuno e Urano. Recentemente descobriu-se que Plutão é um planeta anão, então ele não conta mais no sistema solar.”
“Por quê? O que ele fez pra merecer isso?” O grisalho toma o livro, segurando-o de cabeça para baixo.
“É assim que se segura um livro.” Ele vira o objeto de cabeça para cima. “E Plutão virou um planeta anão porque não tem tamanho suficiente pra ser um planeta.”
“Coitado... Mas, e os outros planetas?”
“Bem, Mercúrio é o menor planeta do sistema solar, e o mais perto do sol. Vênus tem o mesmo tamanho que a Terra; Marte é conhecido como planeta vermelho; Júpiter é o maior planeta do sistema solar; Saturno vem em seguida e é um dos planetas mais frios. Por fim temos Netuno, como o ultimo planeta do sistema solar.”
“É muita coisa... Muita coisa pra eu ficar lembrando...” O grisalho massageia a própria testa.
“É melhor ficarmos só com isso, por hoje.” Shio fecha o livro e o coloca no criado-mudo ao lado do sofá.
 Ele pega o controle da TV e muda o canal do aparelho. Estava passando Bones - um programa forense- muito comum naquele canal.
“Não podemos fazer outra coisa? Fiquei o dia inteiro vendo... Televisão, certo?” Nagare se contorce em um dos lados do sofá.
“Certo, certo, certo.” O garoto desliga a TV, criando um pequeno chiado eletrônico. “O que quer fazer, então?”
“Podemos comprar mais queijo? Não tem mais.”
“Você já acabou com ele?! É melhor comer menos!” Shio ri. “Mas, podemos ir ao mercado. Eu preciso mesmo comprar algumas coisas.”
“Eba! Eba!” O outro se levanta, indo para a porta.
“Espera aí, apressado. Preciso trocar de roupa antes, não quero sujar o uniforme.” Ele entra no quarto, fechando a porta.
 Em alguns minutos, o garoto volta, usando uma calça jeans, uma blusa listrada e um casaco sem mangas.
“Vamos lá agora?” Nagare pergunta, sem paciência.
“Só uma coisa, você sabe que não pode deixar que as pessoas percebam sua presença, não é?”
“Sim...”
“E não pode ficar brincando com objetos do supermercado, não é?”
“Isso.”
“Ok. Então, podemos ir.” O garoto abre a porta.
 Os dois saem, andando para o supermercado. Como o colégio, o lugar ficava somente a algumas quadras da casa. Na verdade, a localização daquela casa era privilegiada, já que ficava atrás de uma rua comercial. Isso facilitava muito a vida das pessoas que moravam lá, mas encarecia o terreno. Shio tivera sorte por poder morar lá.
Assim que chegam ao estabelecimento, Shio retira um pequeno papel do bolso.
“Bem, preciso de leite, ovos, queijo e pão.” Ele diz, olhando a lista. “Vamos começar indo para lá.”
“Ok!”
 Como não iriam comprar muita coisa, os dois garotos precisaram somente de alguns minutos para recolher os produtos. Logo, foram para um dos caixas.
“São R$ 12.” A atendente diz, enquanto faz uma bola de chiclete.
“Aqui.” Shio entrega uma nota de dez e uma de cinco.
“Seu troco.” Ela joga algumas moedas no balcão, voltando a mascar o chiclete.
“Er... Falta um real...” Shio diz, contando o dinheiro.
“Acha que eu errei, foi?!” A garota se enraivece.
“N-não, é só que...” O garoto guarda as moedas no bolso, saindo.
“Você não deveria sair assim.” Nagare anda ao lado dele.
“Essa atendente não gosta de mim. Mas não tem problema, já que da próxima vez que eu vier aqui ela irá me dar o resto.”
“Estranho...” O grisalho começa a trotar.
“É, um pouco.” O outro responde, rindo.
 Eles voltam a casa e passam o resto do dia fazendo coisas aleatórias. A maioria porque Nagare queria saber de tudo, como por exemplo, como jogar todos os jogos da casa ou como usar o microondas. Sem que percebessem, o sol se põe e Shio precisa preparar seu jantar.
“Posso esquentar o seu suco?”
“Não! Eles são feitos pra se tomar gelado, entendeu? Não podemos colocar tudo no microondas.” Shio diz, enchendo seu copo.
“Então posso esquentar um pedaço de queijo?” Ele fita a fatia que estava em seu prato.
“... Pode... Mas tome cuidado quanto for tirar o prato.” O garoto responde, depois de alguns segundos.
“Eba! Eba!” O grisalho enfia o seu prato no aparelho, olhando-o girar.
 Shio ri e começa a comer sua própria comida. Nagare logo aparece com seu prato, e é claro, uma ‘fatia’ de queijo que já estava liquida.
 Quando terminaram, os garotos guardam os pratos e vão assistir um pouco de TV. Porem, não havia nada de bom, então, decidem ir dormir.
 Shio, antes de se deitar, vai para a sala e começa a olhar as estrelas. Contando-as de uma em uma, o garoto sorri. Há dois dias estava fazendo exatamente a mesma coisa e acabara desejando Nagare. Nunca imaginaria o que poderia acontecer.
 O garoto suspira, contando a última estrela e indo para a cama.

 O despertador toca e Shio se levanta, olhando para a janela. O sol ainda não havia saído direito, mas já era hora de ir preparar o café da manhã.
 Ele olha para o lado. Nagare estava deitado virado para a parede, roncando. Era engraçado pensar que aquela estrela dormia... Mas muitas coisas sobre Nagare eram estranhas, então, preferia não pensar aprofundadamente sobre aquilo.
 Estralando os ombros e bocejando, Shio troca de roupa e vai para a cozinha. Toma café e logo está caminhando para a escola.
“Shio!” Jyuu grita, acenando para o amigo.
“Bom dia...” Nobuko também acena sentado à mesa do professor.
“Bom dia.” O garoto joga sua mochila na cadeira e vai ao encontro dos outros dois.
“E aí? Aconteceu algo de interessante?” O loiro diz, cantarolando.
“... Não...”
“Ontem eu fui abrir uma lata de atum e achei um dedão...” Nobuko diz, procurando algo em seu bolso. “Ah, aqui.” Ele levanta o objeto.
“Ahrgh! Que nojento! Por que trouxe uma coisa dessas pra escola?!”
“Eu achei Le-“ Shio é interrompido pelo sinal.
 Os três suspiram e voltam aos seus lugares, como o resto da turma. Assim que a música para de tocar, todos começam a sussurrar e conversar, porém, param quando professor entra na sala.
“Bom dia pirralhos.” Ele diz, jogando suas coisas em cima da mesa. “Abram seus cadernos. Eu vou explicar a matéria de ontem.”
 O som de 45 cadernos e fichários sendo abertos envolve a sala, enquanto o professor amassa uma pequena placa com seu nome e a joga no lixo.
“Bem...” Diz ele, escrevendo o título do capitulo no quadro branco. “... Vamos falar sobre a independência dos países da America Espanhola. Podemos começar com o Haiti...”.
 Ele continua falando durante meia hora, sendo acompanhado pelos alunos. Enquanto explicava sobre o Peru, um toque ecoa pela sala.
“De quem é esse celular? Eles não são permitidos em sala e...” Ele olha para o aparelho vibrando em sua mesa. “Deem-me alguns minutos.”
 Alguns alunos cochicham e comentam enquanto o professor atende ao celular.
“ Eu estou no meio da aula, Dwe.” Diz ele, depois de ver o ID da chamada. “Sim, eu comprei. Alguns dias atrás. Tenho certeza. Ok.” O homem gira em volta de sua própria mesa. “O que? Dwe...” Ele olha para os alunos. “... E semana passada? Ok. Sim, amo você também. Te vejo mais tarde.” O aparelho é desligado. “Bem, onde eu parei? Ah, sim, o Peru-”
“Com quem você estava falando, professor?” Carrie pergunta, enrolando uma mecha de sua franja ruiva.
“Quantas vezes eu disse que minha vida pessoal não é da conta dos alunos?”
“Aposto que era a sua namorada!” Um garoto grita do fundo da sala.
“Devia ser!” Outro, ao lado dele, ri.
“Mentira! Já disse que EU serei a única a ficar com o professor!” Stenfy bate na própria mesa.
“Ele é meu!” Carrie rosna.
 As duas garotas começam a trocar insultos enquanto o resto da sala também perde o controle e começa a conversar.
“Viu? Até ele tem uma namorada!” Nobuko importuna Jyuu, que estava sentado na carteira a sua frente. Aquele era um assunto no qual adorava incomodar o outro.
“Vocês duas, parem de brigar! O professor é meu!” Uma garota alta, se coloca no meio das outras duas e acaba participando da briga.
 O professor bate com o punho na mesa, fazendo a sala ficar em silêncio.
“Eu – não – tenho – uma - namorada. Eu – sou - casado.” Diz ele, mostrando o anel na mão esquerda.
“O que?! Não, de jeito nenhum!” A garota alta grita.
“Ah! Eu perdi a minha juventude!” Stenfy começa a gritar.
 Kasanoa suspira e coloca seus pés em cima da mesa. Não gostava de falar da sua vida e nem de confusões, principalmente de consertá-las.
 A porta da sala é aberta com um estrondo, fazendo todos se calarem e voltarem seus olhos para o novo convidado.
 Era um homem de cabelos longos e ruivos- amarrados em um rabo de cavalo. Seus olhos eram entre verde e amarelo opaco. Vestia uma blusa preta colada e uma calça jeans rasgada nos joelhos. Se não o olha-se com atenção, era possível confundi-lo com uma garota.
“Kasa!” Ele diz abraçando o professor.
“O que você está fazendo aqui?!” O outro grita.
“Estava passando por aqui e me deixaram entrar para lhe dar um oi.” Ele sorri, segurando as mãos do professor.
“Pare de fugir do trabalho...”
“Ah!” O ruivo diz, olhando para o relógio. “É verdade, eu tenho que voltar.” Ele beija a bochecha do professor e sai da sala, correndo, mas volta.
“Três é o número perfeito.”
“... Sete.” O professor retruca, enquanto o outro sai.
 A sala continua em silêncio, enquanto o professor pega o pincel atômico e tenta retomar a aula, novamente.
“P-professor?” Jyuu levanta a mão.
“Não pergunte...!” Nobuko sussurra, cutucando o ombro do loiro.
“...Quem era aquela pessoa?” Ele continua, ignorando o amigo.
 O professor suspira. Alguém iria perguntar aquilo, mais cedo ou mais tarde.
“Ora, é o meu marido.” Ele diz, tampando o pincel.
 Os alunos começam a conversar em voz alta, chegando a gritar e algumas garotas se levantam e formam um círculo.
“Como ele pode me trocar por um... Um...!”
“...Por um cara!”
“ Eu prefiro assim...”
 O professor bufa e bate as mãos na mesa.
“Eu tenho uma matéria pra explicar. Se vocês não se calarem eu dou suspensão de férias pra todo mundo aqui.”
 Os alunos vão voltando para seus lugares lentamente e em um minutos, a aula volta ao curso normal.
 Dois horários se passam e o recreio chega. Então, como normalmente, Jyuu, Nobuko e Shio vão para o terraço da escola, para comer.
“Sabe, eu gosto das aulas de história...” O loiro diz, mordendo uma barra de chocolate.
“... Elas são animadas, normalmente. Melhor do que as outras aulas.” Shio toma um gole de seu suco.
“Eu não gosto do professor.” Nobuko estava brincando com uma borboleta que voava.
“Você só está arranjando desculpa. Aposto que é por que ele é casado com um cara.” Jyuu amassa a embalagem metálica e a joga no lixo.
“... Mas é estranho! Não é, Shio?!”
“Ãhn?” O garoto estava viajando em seus próprios pensamentos. “O que você disse?”
“Eu perguntei se você concordava comigo.” O garoto de cabelo verde resmunga.
“Eu não vejo problema nisso.” Ele come um waffle. “Não cheira nem fede, pra mim.”
“Viu? Você é que está cismando com ele.”
“É você que só quer achar uma razão pra brigar comigo.”
“E se for? Vai fazer o que?”
“Eu vou-“
“Ah... Vocês podem parar?” Shio coloca a mão na testa. “Vocês não brigaram até agora, tentam fazer uma força até chegarem em casa...”
“Tá bem...” Os dois respondem em unissosso.
 O recreio acaba e os garotos voltam para a sala. A aula corre normalmente, como se a confusão durante os primeiros horários não tivesse acontecido. Logo o último sinal bate e os alunos saem da escola, ou ‘prisão’ para alguns.
 Shio caminha até sua própria casa, com a mochila jogada em um dos ombros. Algum dia conseguiria fazer aquele caminho de olhos fechados...
 Não consegui achar a loja de cartomancia que havia visto no dia anterior. Em seu lugar havia uma sorveteria comum e monótona.
 Ele abre a porta e joga a mochila atrás da mesma. Nagare está vendo televisão na sala.
“Bem vindo de volta.” O grisalho diz, quando vê o outro.

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E aí? Estão gostando? Sabemos que essa pergunta parece repetir insanamente aqui, mas, queremos mesmo saber o que vocês acham! Isso é importante para a nossa experiência *carinha de cachorro abandonado*. Bem, agora, sem mendigagem, esperamos que tenham gostado do capítulo e... Até sexta que vem~!

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