Capítulo 3: “O céu para todos”
Nagare
caminha até a escola, segurando a mochila em seu ombro. Saíra cedo para poder ver
o sol roxo amarelado da manhã. Aquela visão lhe trazia paz e tranquilidade.
Suspira.
Aquela não era a melhor definição para o que estava em sua cabeça agora. Não
conseguia parar de pensar no dia anterior, que por sinal, havia sido bem
diferente dos seus normais.
O problema
também não era o dia em si, só as 7 última horas deles... Ou uma hora... Talvez
só alguns segundos em que pensou...
O garoto grita
para sua própria mente, bagunçando o cabelo. Não queria admitir que, por causas
superiores, como a força gravitacional que o céu exercia em sua vida,
conseguira fazer algo horrível. Algo que poderia tornar a sua já amaldiçoada
vida, mais miserável ainda.
Conseguira se
apaixonar.
Isso era
exatamente a pior coisa que poderia fazer. Sabia que estava destinado à pessoa
a qual sua outra forma havia se encontrado, e estava preso por isso. Porém,
aquela droga de sentimento cismava em pulsar, enviando informações incertas
para o seu cérebro.
Ele suspira,
tentando se acalmar. O melhor que poderia fazer agora seria se afastar e
esquecer. Já havia feito aquilo outras vezes, certo?
Mas nas outras
vezes, havia sido diferente. Não se sentira assim em nenhuma outra ocasião. Seu
coração estava apertado, e ainda assim, parecia dar as batidas mais felizes que
podia.
Claro, também
havia o fato de que, dessa vez, ele quem estava tomando a iniciativa.
Normalmente as garotas é quem o faziam pensar em alguma possibilidade e o
confundir.
Muito bom.
Agora outra coisa aparece em sua mente; ainda não notara que havia se
apaixonado por um garoto...
O grasnar dos
pássaros que estavam na árvore da escola o acordam. Distraíra-se por tanto
tempo que nem percebera o quanto andara. Suspira, arrumando a mochila em suas
costas. O dia já não parecia mais tão pacifico e tranquilo assim.
‘Por que me trouxeram aqui?’ Shio escreve em seu mini
quadro branco. Estava em um dos corredores da escola, o mais abandonado do
lugar. Carrie e Stenfy o haviam sequestrado da sala e arrastado até lá.
“Calma. Só queremos ajudar.” A ruiva sorri.
“Você deve saber o que sabemos não é?” A outra também
sorri.
‘Não sei do que estão falando. ’
“Sabemos que você anda perseguindo o Nagare e sabemos
que você tem... Uma queda por ele.” As duas o apertam na parede para que não
fuja.
‘Nada a declarar... ’
“Corta essa!” Stenfy ri. “Esse não é o motivo de
estarmos aqui, diretamente.”
“Só queremos ajudar você, a conquistar a sua pessoa
querida.”
Ele as encara.
Não era possível que duas garotas tão estranhas poderiam querer ajudar-lhe...
Principalmente em uma situação como aquela.
‘Por que farão isso?’
“Vamos dizer que as experiências da vida nos tornaram
dois cupidos, temporariamente.” Elas pareciam ter um sorriso amigável.
“Mas saiba que fazemos isso meio que por egoísmo.” Carrie
estrala os dedos, olhando para um espaço em branco na parede.
‘... Como querem... Me... Ajudar?’
As duas
sorriem, de forma maliciosa. Ao contrário de cupidos, pareciam harpias prontas
para atacarem qualquer um que parecesse uma presa fácil.
“Bem...”
O sinal toca,
interrompendo a garota. As duas saem correndo pelo corredor, mas avisam para encontrá-lo
durante o intervalo. O garoto suspira, estava assustado, mas, ainda sim,
aliviado; era bom ter alguém que o ajudasse, não confiava em Jyuu ou em Nobuko
para pedir algo desse gênero. Ele desse pela escada de incêndio, aquele era o
caminho mais rápido para a sala.
Toda a sala havia formado um círculo- se poderia ser
chamado assim- em um dos cantos do lugar. Falavam baixo, mas mesmo assim, os
ruídos abafados passeavam pelo ar.
Shio se
esgueira entre os ombros e infiltra-se no círculo, tentando entender o assunto
que estavam tratando.
“E por fim, é assim que acontece.” Uma garota com
cabelos loiros e luzes roxas diz, sorrindo. “Pronto. Alguma pergunta?”
“Que nojo!” Um garoto de moicano grita, cobrindo a
boca. “Como vocês podem gostar disso?”
“É um tipo diferente de... Coisas!” Uma garota de
cabelo curto que estava sentada no chão diz.
“O pior é que o contrário também acontece...” Um
garoto de óculos e corte asiático diz, coçando o queixo.
“Ele tá certo.” Nobuko, que estava sentado em uma das
mesas com as pernas cruzadas sorri maliciosamente. “Não é mesmo?”
“É verdade...” Outro garoto sorri da mesma maneira.
“Vocês são um bando de...”[1]
Jyuu é interrompido pelas duas garotas que chegam esbaforidas e rindo, chamando
a atenção de todos.
“O que aconteceu? Viram algum pássaro prateado bater
na janela?” Uma garota que estava escrevendo sobre a mesa do professor
pergunta.
Carrie tenta
dizer alguma coisa, mas começa a rir freneticamente. Stenfy não conseguia nem
mesmo respirar direito, então não estava tentando falar alguma coisa. As duas
se afastam da porta e vão para os lugares.
“Quem foi o filho da mãe que colocou tinta no meu
gel?!!!” Hilem grita, chutando a porta.
Seu cabelo,
normalmente loiro, estava mal tingido com uma cor entre azul e violeta. Os
adolescentes ficam quietos por alguns segundos, mas quando o primeiro começa a
rir, todos fazem o mesmo.
O professor
ruge, jogando com força, a maleta de couro em cima da mesa. Ele começa a resmungar,
mas sorri quando remexe seus próprios pertences.
“Muito bem...” Diz ele, alongando a sílabas. “Digam
logo que foi ou eu atiro.” Ele levanta o revólver prateado, apontando para
cima. “E eu boto a culpa em um de vocês.”
“Corta essa, aposto que é um brinquedo.” O garoto de
moicano diz, ainda rindo.
“Além do mas, você não teria coragem.” Um outro,
sentado ao fundo da sala, completa.
“Algum de vocês vai falar ou querem mesmo apostar que
eu não atiro?” O meio loiro diz, com um sorriso psicopata enquanto destrava a
arma.
Todos se
silenciam; parecia estar falando a verdade. Porém, ninguém levanta a mão, não
queria sentenciar a própria morte.
“Dez... Nove...” Hilem começa a contar, andando em
círculos.
Nobuko joga
uma bola de papel em Shio e sussurra ‘O que a gente faz’ para o garoto,
recebendo um dar de ombros em troca. Já vira Hilem ter um ataque de raiva
antes, e só uma pessoa conseguia acalmá-lo em uma situação assim. Infelizmente,
essa pessoa não estava ali no momento.
‘Ah... Não vai acabar bem... ’ Jyuu sussurra,
balançando a cabeça.
Alguns
segundos antes do meio loiro chegar à zero, a porta se abre mais uma vez e um
homem de cabelos marrom-avermelhados aparece, esbaforido. Ele praticamente
escorrega até onde o outro estava e aperta o espaço entre sua clavícula e
escápula, o fazendo desmaiar.
“Vai demorar uma hora pra ele acordar. Se ficarem
quietos, eu não chamo um substituto.” O homem diz, carregando o outro em seus
ombros e indo para fora da sala.
O silêncio
toma conta do lugar por alguns segundos, até que Carrie sobe em cima da própria
mesa.
“Como representante
dessa sala, digo que vocês podem...” Ela coça o queixo. “Fazerem o que for,
mas sem barulho!”
Era sempre bom
ter feito a pessoa mais desequilibrada da sala como representante. Assim, ela
conseguiria negociar com o conselho de professores e saberia como armar uma
‘diversão’.
Os alunos se
dividem em grupos e começam a conversar num tom baixo e alegre.
Nagare olha para
o lado, procurando algum grupo; encontra dois garotos tentando descobrir que
tipo de inseto havia feito um ninho na janela, junto com algumas outras
pessoas. Suspira. Ao contrário de si, ali estava transbordando a felicidade (na
maioria por conta de não terem aula de matemática). Sorri. Estar dentro da sala
o fazia ter vontade de se tornar feliz e despreocupado como o resto das pessoas
ali.
Ele balança a
cabeça. Em que estava pensando? Por que não seria feliz? Tinha uma família que
o amava, uma boa casa, dinheiro suficiente para viver bem... O que mais queria?
Olha para o
lado, onde alguns estavam olhando a janela. Shio estava lá, junto com seus dois
inseparáveis amigos, os quais não conseguia lembrar o nome ao certo. O garoto
parecia sempre estar aproveitando daquele tipo de situação, e mesmo que não
pudesse falar, conseguia fazer com que os outros o entendessem.
Realmente...
Como conseguira se apaixonar assim tão perdidamente? Nem mesmo o conhecia
direito! Além do mais... Nunca poderia ficar junto a ele, estava destinado à
ótima pessoa a qual a sua estrela havia se aproximado.
Nagare sorri.
Acabara de perceber uma coisa muito importante da qual nem ao menos havia se
dado escolha. Por que, afinal de contas, precisaria se submeter a aquela
maldição idiota? Ele era humano e tinha o direito de agir por si mesmo.
Stenfy o
surpreende, batendo em sua mesa e o retirando de seus pensamentos.
“Ei! Estava pensando em que?” A garota diz, sorrindo.
“Nada de muito importante.” Nagare balança a cabeça.
“Vocês querem alguma coisa?”
“Olha, vou ser franca.” Ela sussurra, como se não
quisesse que alguém ouvisse. “O que você acha de ir ao encontro as escuras?
Alguém que eu conheço quer muito... Conhecer você melhor.”
“Me desculpe.” O garoto de olhos diferentes diz,
coçando a nuca. “Eu... Meio que gosto de outra pessoa.”
Como se fosse
um filme, no exato momento em que falara aquilo, toda a sala estava em silêncio.
“Não pode ser!” Uma garota grita, batendo o punho na
mesa.
“É sempre assim... Os mais populares vão ganhando as
garotas e o resto encalha no mar...” O garoto de moicano suspira, com a cabeça
na mesa.
Shio congela
por alguns segundos. Mas o que?! Pensa, enquanto encara a carteira a sua frente,
desesperado. Isso com certeza não seria bom; de jeito nenhum!
“Interessante.” Stenfy sorri. “Não acha que seria
ótimo se desse uma pista de quem seria essa pessoa sortuda?”
A maioria dos
alunos o encara. Realmente, eles eram muito interessados em fofocas desse
gênero.
Nagare
suspira. Não conseguiria fugira daquilo facilmente... Precisava dar uma
resposta vaga o suficiente para que não pudessem lhe questionar e ainda sim
contasse alguma coisa.
“É alguém dessa sala.” Ele diz, sorrindo.
Algumas
garotas entram em euforia, poderiam ter uma chance de 0,5 % de ser a pessoa
escolhida por Nagare. Enquanto isso, Jyuu e Nobuko saem da janela e vão em
direção a Shio.
“Cê tá meio estático hoje...” O garoto de cabelo verde
comenta, apoiando o cotovelo na mesa do garoto.
‘Acho que é
culpa do mal tempo... ’
“Eu também fico meio pra baixo quando está
chovendo... Acho que é porque preciso muito da luz do sol pra ter energia.”
Jyuu diz, levantando os braços de forma espalhafatosa.
“É mentira. Só precisa dar um pequeno cubo de açúcar que
ele consegue fazer os cem metros rasos.” Nobuko sussurra para o outro, o
fazendo rir.
“Eu ouvi tudinho... Meu, Querido, irmão!” Jyuu dá um
cascudo na cabeça do outro, recebendo um soco em troca.
Os dois começam
uma pequena briga. Shio se vira, procurando onde estaria Nagare, naquele
momento. O garoto estava conversando com algumas outras pessoas, como fazia
normalmente.
O sinal para o recreio toca. Shio é arrastado da sala
pelas duas garotas que estavam lhe ajudando, recebendo encaradas estranhas dos
amigos que estavam falando com ele anteriormente.
O garoto mudo
é jogado dentro de uma sala. Carrie liga as luzes do lugar, e pode-se ver que
era estranhamente grande e escura.
‘Onde eu estou?’ Shio escreve em uma folha de papel que havia trago
consigo.
“É uma ótima sala; nenhum dos professores quer usar
um projetor multimídia que é mais velho do que eles.” A ruiva sorri, estralando
os dedos.
“Eles nem notaram quando a chave sumiu, há uns três
meses atrás.” A outra garota completa, enquanto puxa alguns fios, fazendo um
quadro branco cair lentamente e ficar a frente à porta. Enquanto isso, as
cortinas de ferro se abrem e mais fios pulam do teto.
“Colocamos algumas... Coisinhas especiais aqui. Sabe,
pra podermos usar como quartel general.” Ela se senta no chão, pedindo para os
outros fazerem o mesmo. “Podemos conversar à vontade aqui.”
‘Bem... Eu acho
que temos... Um problema... ’ Shio
aperta as mãos uma na outra.
“Não se incomode com nada, por enquanto. Temos o
total controle da situação.” A outra pega um pincel atômico e o gira entre os
dedos.
‘Mas você foi
perguntar a ele... ’
“Nós não somos tão burras, garoto.” A ruiva puxa um
dos fios e um pacote de cookies cai em sua mão. “Aquilo foi para saber
exatamente o que ele disse; ou seja, se Nagare gostava de alguém, no momento.”
“Somos profissionais.” A garota se levanta, indo para
o quadro branco. “E nós já temos um plano feito.” Começa então a desenhar e
escrever algumas coisas nele.
“Por motivos dos quais eu não posso lhe dispor no
momento, pois poderia ser presa, sei que
teremos uma viagem programada para semana que vem. Iremos aos meados do Sul
para aprender sobre alguma coisa sobre pedras e ficaremos hospedados em um
grande hotel da região, o Plaza de Pitàfio.” Ela circula o nome em negrito.
“Infelizmente, o hotel não possuí muitos quartos,
então seremos divididos em duplas aleatórias.” Sorri. “Tão aleatórias que
fizemos você e o Nagare ficarem no mesmo quarto.”
‘Vocês são muito
boas nisso. Deveriam tentar investir... ’
“Só conseguimos nos concentrar em coisas que nos
interessem.” Stenfy dá de ombros.
“E isso não ajuda muito quando a única coisa que
interessa é... Bem, casais ‘diferentes’ do comum.” Carrie completa. “Mas já
vamos avisando...”
“Isso é tudo que podemos fazer. O resto fica por sua
conta, entendeu?”
‘OK. Eu vou dar
o melhor de mim!’
Nagare se
esgueirava pelos corredores brancos da escola, a procura de duas pessoas em
especial. Havia decidido tomar a iniciativa em relação aos seus sentimentos,
mas não conseguiria falar diretamente com Shio, precisava de alguém que fosse
próximo do garoto.
Lá estavam,
virando para o portão de saída da academia Rouzaku; os dois melhores amigos de
Shio, e agora, seus futuros informantes.
“Jyuu! Nobuko!” O moreno coloca as mãos nos ombros de
cada um, sorrindo amigavelmente.
“Hum? O que você quer com a gente?” O loiro pergunta,
estranhando a felicidade do garoto.
“Eu preciso de um favor de vocês dois...!” Seu
sorriso vira uma cara de cãozinho.
“Fale, criança, não temos o dia inteiro.” Nobuko
suspira.
“Vou ser bem franco.” Nagare encosta o dedo médio na
ponta dos lábios. “Me contem tudo o que sabem sobre o Shio.”
Os dois irmãos
se encaram e então, soltam uma risada abafada.
“E por que você quer saber disso, senhor popular?”
Jyuu brinca, em tom de deboche.
“Tenho a leve impressão de que ele quer se apossar do
nosso Shio.” O garoto de cabelos coloridos ri, em tom baixo.
“Vamos lá!” Nagare fica a frente dos dois. “Olha,
essa é a primeira vez na minha vida que EU começo a gostar de alguém. Eu pensei
que vocês, como parecem tão experientes e adultos, poderiam me ajudar...”
“... Aceitamos.” Os dois dizem juntos, depois de se
entreolharem.
“Mas só porque você parece empenhado nisso!” O loiro
diz, pegando uma barra integral do bolso da mochila e mordendo-a.
O moreno
sorri, acompanhando-os. Não pensara que iria ser tão fácil convencer aqueles
dois, mas aquele parecia ser um de seus dias de sorte.
Nobuko morde a
barra do irmão, fazendo-o puxá-la para longe.
“Yark! Eu já não disse pra parar de morder o que eu
to comendo, droga!?” Jyuu dá uma cotovelada no estômago do outro.
“Eu sempre vou te provocar, esqueceu?” Nobuko
sussurra no ouvido do outro.
“Er... Posso perguntar uma coisa?”
“O que foi?”
“Vocês dois...” O garoto aponta para eles,
balbuciando.
“Não. Só irmãos.” Nobuko dá de ombros.
“Além do mas...” Jyuu aponta o dedão para o irmão.
“Ele dá em cima de mim só pra fazer cena.”
“Assim você me faz parecer um distorcido!” O irmão
bate a cabeça na do outro, o fazendo resmungar alguma coisa. “Eu sou só uma pessoa
‘muito amigável’, ouviu?” Ele diz a Nagare.
O garoto ri
daquela situação. Não sabia por que, mas aquilo lhe trazia um sentimento de
nostalgia muito profundo... Talvez fosse só impressão.
Uma semana se
passa. Nagare passara alguns dias da semana com os amigos de Shio. Esse, pelo
contrário, passara a semana tomando nota de tudo sobre o seu alvo, procurando
algo que pudesse usa para a viagem.
O professor de
Geografia entra na sala, segurando alguns mapas em baixo do braço e arrumando
os óculos. Pega, então, um pincel atômico e começa a escrever no quadro.
“Olha, não fiquem alvoroçados, mas...” Ele arruma os
óculos. “Vocês terão uma viagem nessa sexta-feira.”
Alguns alunos
comemoram, sussurrando felizes alguma coisa ou fazendo ‘yeah’ e movimentando o
cotovelo para trás.
“Vocês vão para Ishigake, estudar sobre as formações
rochosas e os tipos de solo daquele lugar. A taxa de inscrição é de 120 ¥,
paguem até quinta-feira.” Ele escreve as datas no quadro, com o marcador
vermelho. “Então, está dado o aviso.” Cortando a chance de algum comentário, o
professor começa a escrever o roteiro da aula.
O riscar
frenético de canetas preenche o lugar, juntamente com os suspiros zangados.
Com o sinal do
fim da aula, o homem de óculos vai embora, enquanto Hilem entra na sala.
Diferentemente
dos outros dias, o loiro coloca sua mochila em cima da mesa com cuidado, retira
uma maçã e se senta.
“B-Bom dia, professor...” Um aluno arrisca dizer.
“Só se for pra vocês.” Ele resmunga, se levantando,
enquanto massageia as têmporas. “Eu fiquei a noite toda corrigindo suas provas,
agora tô com uma dor de cabeça foda...” Suspira. “Então, se ficarem quietos, eu
entrego as provas e dou o resto do tempo livre, sem dever de casa ou outra
coisa.”
Obedecendo,
todos os alunos ficam quietos, esperando serem chamados para receberem a nota
do teste.
“Ah, uma coisa...” Hilem fala, após entregar a última
prova. “Já falaram sobre a viagem aqui, não é?”
Os
adolescentes concordam.
“OK, assim eu não preciso explicar muita coisa.” Ele
junta as mãos e as coloca em frente ao rosto. “Em cada prova há um letra,
escolhida ao acaso por mim. Encontre a outra pessoa com essa mesma letra, ela
será sua parceira durante a viagem, incluindo com divisão de quartos.”
Todos correm
eufóricos, a procura de seus pares. Stenfy e Carrie sorriem uma para outra; já
sabiam que estariam juntas e que Shio estava ‘aleatoriamente’ com Nagare.
A sala já
estava dividida no formato das duplas. Jyuu estava conversando com Yabu, uma
garota de pele escura e cabelos longos. Nobuko havia ficado com Kisha, uma
garota indiana que estava usando um poncho de tecido fino sobre os ombros.
Trisha, sua irmã gêmea, estava pintando de pretos as unhas de seu parceiro, Kai,
o garoto de moicano.
A maioria dos
sussurros e comentários eram sobre a dupla que estava sentada em um dos cantos
da sala. Algumas garotas olhavam para aqueles dois com um olhar feroz e mortal,
mas o mundo parecia não incomodar os garotos.
‘Espero que possamos nos divertir. ’ Shio escreve em
uma das folhas de seu caderno. Não era nenhuma surpresa ele estar ali com
Nagare.
“O mesmo daqui.” O outro sorri. Estava surpreso e
feliz pela “sorte” que tivera.
Nos quarenta
minutos em que Hilem dormiu em sua mesa, os alunos conversaram sem parar. Fora
até estranho que nenhum dos coordenadores tivesse passado por ali e encontrasse
o caos que se encontrava lá.
Os dias se
passam, e chega a tão esperada viagem. Quando todos terminam de subir, o
motorista dá partida e o ônibus começa a andar.
“Aqui tá muito quente, porra...” Uma garota vestida
toda de preto reclama, chutando o banco a sua frente.
“Você que quis vir com essa roupa, então sofra as
consequências.” A sua dupla implica.
“Ela tá certa, coisa! Aqui tá mais quente que o
inferno!” Carrie grita.
“É que nossa escola é pobre demais pra comprar um
ônibus com ar condicionado!” Nobuko grita para a garota, do fundo do veículo.
“Eu vou morrer de calor!” Kai também grita, tentado
fazer uma brisa com o leque que segurava.
“Por que não contamos alguma coisa? Isso vai nos
distrair do calor!” Nagare sugere, levantando-se.
“OK, alguém aí conhece uma boa música?!” Stenfy
grita, se apoiando no encosto da poltrona.
“Eu sei uma!” Jyuu se levanta, abrindo uma capa preta
e revelando um violino. “Acho que todo mundo conhece a letra!” Ele apoia o pé
no encosto para os braços da poltrona e começa a tocar.
“Eu joguei, disse que sim;
Uma pedra no jardim;
Matei o gato da vizinha,
Ah, se a culpa fosse minha!
Ah se a culpa fosse minha!
Tentei depois enterrá-lo
Mas acabei com um galo;
Joguei gelo e funcionou,
Ainda bem, melhorou.
E uma noite percebi,
Acabei de descobrir
Nada tinha acontecido
E nem o gato, morrido.
E nem o gato morrido.”
Os
adolescentes acompanham, fazendo os sons de fundo com a boca e tentando não se
perder no ritmo frenético e estranho da música.
Não muito
longe, Quatro adultos estavam enfurnados num carro, seguindo para Ishikage.
“Eu queria dirigir...!” Hilem geme, raivoso, no banco
de trás do carro.
“Hoje está um dia quente e com um transito pesado, o
que iria te estressar. Você sabe o que acontece se você estiver estressado?”
Ales pergunta, retoricamente, enquanto levanta os óculos que teimavam em descer
para seu nariz.
“Além do mais, eu não quero que você bata o meu
carro.” Kasanoa diz, fazendo a curva.
“Explique-me de novo, Kasa, por que precisamos de
disfarces?” Dwiea pergunta, amarrando o cabelo, que tingira de preto
temporariamente.
“Um, eu não quero ser incomodado por nenhum dos
alunos, nem o Hilem. Dois, é uma ótima oportunidade para vermos quem acertou a
aposta.” O professor sorri, maliciosamente.
O meio ruivo suspira enquanto retira a sua blusa.
“Não dava pra vocês virarem o ar condicionado pra cá não? Está mais quente que
um forno aqui.”
“Nem vem!” Dwiea mostra a língua para o outro,
colocando o rosto na frente da saída do ar condicionado.
“É impressão minha ou somos piores do que crianças?”
Kasanoa pergunta, sendo imediatamente respondido com um “Sim!” sinfônico.
“Quanto tempo vai demorar a viagem?” Hilem pergunta,
se apoiando no peito nu do namorado.
“São três horas, direto.” O motorista faz mais uma
curva.
“Podemos cantar para passar o tempo?” Dwiea pergunta,
repentinamente.
“O que você quer cantar?” Ales pergunta enquanto
afaga o cabelo do loiro, que havia desabotoado a blusa.
“É uma música antiga! Mas aposto que vocês lembram
muito bem!” O temporariamente moreno sorri, começando a canção e sendo
acompanhado pelos outros.
“Não tente levar a mal
Nós somos só um sinal
Se viermos lhe buscar
Já está pra acabar
Sua vida vou levar
E com as cores, definhar...”
Os quatro
riem. Não cantavam aquilo há muito tempo.
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[1] Há!
Alguém conseguiu adivinhar sobre o que estavam falando? Aposto que não, porque
acabou ficando muito bem maquiado... Bem, aqui vai uma pista: Os dois começam
com Y!
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Há! Nós somos muuuuuiiiiittto maus! Só para demorar mais um pouco, vamos dividir o último capítulo em duas partes! Podem apostar, foi só por que estávamos com vontade de deixar vocês na espectativa~xD Bem, é tudo por hoje. Só avisando, a promoção ainda está de pé, ouviram? Para mais detalhes, vão ao capítulo com tag "promoção"ou algo do gênero e3e. Bem, até mais!
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